segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Prelúdio de tempestade


            O João-de-barro caminhava entre a grama recém-cortada, procurando o que lhe sustenta a vida e, uma gota cristalina carregada pelo vento mensageiro da tempestade, atingiu suas plumas. Lá para as bandas do Caveiras um relâmpago prenunciou o ruidoso trovão. O céu azul agora vestido em uma névoa branca dava-me a noção do que veria a seguir.
            Olhei para o jardim, que alheio à profecia, vicejava cores e perfumes. A minha Bugaville, cultivada e protegida com tanto esmero, agora recompensava-me com suas flores em um rosa vivo. Os copos-de-leite amarelo, preguiçosamente desenrolavam suas folhas pintadas em verde e branco, para fazerem par com a nova flor.
            Mais e mais trovões e, a passarada em vez de assustada, parecia-me que cantava ainda mais alto, talvez entendendo que assim afastariam o dilúvio.
            No jardim ao fundo uma sabiá laranjeira iniciou o seu gorjeio, o mesmo que em todos os finais de tarde do Sul, ela nos brinda. Maravilhado e como que hipnotizado pelo seu canto, fui a sua direção.
            Lá estava ela... Posada sobre a aroeira e afinada com o universo, suas notas reverberaram em meu espírito. O vento que se fazia ainda mais forte, remexia as suas plumas vermelhas castanhas e, imponente equilibrava-se sobre um pequeno galho.
            Lembrei-me de meu já velho pai... Quanto ele me ensinou sobre a natureza... Quantos ninhos já geraram novas azas, no pequeno espaço de terra que milha filha nomeou “floresta do vovô”.
            Ben-ti-vis, Anus, Tico-ticos, Suiris, Tesoureiros, Curicacas, Beija-Flores, Grimpeiros, Sanhaços, Sabias Laranjeiras e Sábias do Campo, Chupins, João-de-barro, Pombinhas-das-Almas, e tantos outros, ali vem fazer seus ninhos e comer das suas frutas.
            Maracujá, Ingá, Sete capote, Pera, Caqui, Cereja, Ameixa cambará, Pitanga, Pé-de-galinha, Pinhão, Limão, Laranja, Gabirova, Uvaia e tantos outros, revezam os doze meses, de forma a não faltar o alimento aos senhores do ar.
            Obrigado meu pai, por me ensinar a reconhecer os pássaros e as frutas, já ensaiando também a parte que me cabe continuar.

            Aspirei profunda e lentamente o cheiro de terra molhada que emergia de nosso chão sulino e, deixei que as gotas que se perderam da tempestade viesse ao meu encontro. Ao meu lado brincavam meus dois mascotes que a cada trovoada se aproximavam mais de mim. Acariciei-lhes as cabeças.
            A chuva desviou-se... Deve ter dado certo o pedido dos pássaros. Eu, por minha vez, peguei o meu violão e mesmo sabendo que jamais me aproximarei de suas melodias, procurei os acompanhar.

            Lages, 04 de novembro de 2012.

domingo, 2 de setembro de 2012

Discurso de Formatura

            Há cinco anos, em um grupo de mais de trinta pessoas iniciávamos a caminhada rumo ao título de Psicólogo, sem nem mesmo sabermos o que era a ciência chamada Psicologia. Já no primeiro dia de aula, o professor Gustavo abalou as nossas concepções oriundas do senso comum, nos deixando sem rumo.
            A primeira aula deu lugar a dezenas de outras e a confusão foi ficando ainda maior. Teoria da Personalidade? Insight? Figura e Fundo? Reforço? Punição? Modelagem de comportamento? Idi, Ego e Super-Ego? O que seria tudo isto? A tensão aumentava dentro de nós. Não existe uma psicologia, mas várias psicologias, nos provocava a professora Kenny... Como assim? Nos perguntávamos.
            As aulas de Embriologia e Genética, morfo-fisiologia do sistema nervoso iam nos introduzindo nas complexas formações orgânicas do ser humano, enquanto nas disciplinas de Análise Experimental do Comportamento e Psicologia Experimental, a professora Alessandra fazendo uso de seus mascotes, os Gerbilos da Mangólia e do Rato Branco, nos apresentava a teoria e a prática da psicologia comportamental.
            Mais e mais disciplinas vieram. As dinâmicas de grupo, a Psicologia do Desenvolvimento, da Aprendizagem, Educacional e Escolar, Social e Comunitária, da Saúde e Hospitalar, Organizacional e do Trabalho, Institucional e os testes psicométricos e projetivos, ampliaram imensamente a nossa gama de conhecimentos.
            Quando já achávamos que sabíamos de alguma coisa vieram o estudo das escolas psicológicas. Psicanálise, Gestalt, Psicologia Humanista, Existencialista, Comportamental. Achávamos que era muita coisa para a nossa cabeça. Bateu o desespero sem sabermos que o pior ainda viria...
            E veio... Tinha nome e estilo próprio... Era o professor Fábio com a Psicofisiologia, a Neuropsicologia, a Psicologia Cognitivo-Comportamental, a Psicofarmacologia. Éramos felizes e não sabíamos.... Utilizando-se de seus métodos de “motivação” ao estudo, ou “provas” para os leigos, nos deixou definitivamente mais próximos da linha entre a normalidade e a loucura. A cada disciplina ele não se contentava com pelo menos um livro inteiro para lermos, do qual depois ele tirava do meio das 500 páginas algumas perguntinhas para a prova. Além é claro das demais provas que a cada quinze dias ele nos presenteava. Como ele conseguia fazer com que quatro ou cinco questões pudessem envolver todo o conteúdo?        Professor Fábio, um misto de amor e ódio era o que sentíamos por você. Ódio pelo nível da cobrança, pelas nossas muitas noites sem dormir direito, pelos consecutivos finais de semana estudando, pelas notas das provas. Amor? Deixe eu tentar lembrar de alguma coisa... Ah sim, tem um fato, mesmo que só feminino. Amor era só nos momentos em que você todo encalorado, nas noites frias de inverno, tirava a sua blusa deixando aparecer um pouco de sua barriga sarada, fazendo a meninada suspirar.
            Mas não foi só ele. Também a professora Márcia nos causou impacto, na primeira aula de Psicopatologia, nos questionando sobre o que era loucura. Dizia ela: “O que é normal e o que não é normal?” Não sabíamos responder. Ela foi pouco a pouco destruindo as nossas pré-concepções e preconceitos, nos transformando em pessoas possuidoras de um maior entendimento sobre o assunto e, desenvolvendo a nossa visão crítica. Muito mais você nos trouxe: A dinâmica dos chamados “segredos de família” e Psicologia do Trânsito, a Psicoterapia Breve, a Terapia Familiar. Com o Psicodrama você decepcionou as meninas quando mostrou uma foto de Moreno, pois ai elas perceberam que ele não tinha nada de moreno alto, lindo e sensual.
            A professora Jossora, que nos contagiou com seu jeito carismático de ser e nos trouxe a Psicologia hospitalar e da Saúde, a das necessidades especiais e por fim, tópicos muito atuais sobre os transtornos relacionados a percepção corporal e ao comportamento compulsivo.
            A professora Kenny, nos legou as diversas teorias da personalidade. Nos ensinou as dinâmicas de grupos, a ética do psicólogo, a importância e o cuidado nas lides da Psicologia Jurídica. Sempre muito amiga e dedicada, tudo fez para a nossa construção não só do conhecimento, como também de profissionais com caráter e comprometimento.
            A professora Tânia nos desvendou os intricados processos da aprendizagem. A visão de Vygotski, Piaget, Carl Roger e tantos outros teóricos da aprendizagem, são dominados por ela com facilidade, dando-nos aula semestres inteiros sem nem mesmo precisar pegar em um livro ou texto. Nos ensinou sobre a psicoterapia infantil, sobre a Gestalt e enfim compreendermos o que era insight, figura e fundo  e os demais conceitos da Teoria das formas.
            Por fim, resta-nos falar de uma pessoa também muito especial para nós. Ela tem uma maneira toda sua de ser e uma capacidade enorme de cativar seus alunos. Chama-se professora Jeane. Foi ela a quem coube a importantíssima tarefa de nos orientar na maioria de nossos estágios e no trabalho de conclusão de curso, o famigerado e temido TCC. Quem a vê pelos corredores vai sempre encontrá-la com pelo menos uma mochila as costas e mais uma grande bolsa nas mãos. São as suas ferramentas de trabalho ou a grande quantidade de trabalhos de seus alunos que ela carrega como se fosse um brinquedo novo nas mãos de uma criança. Reclama ela? Nunca, na verdade percebe-se o prazer que ela tem com tudo isto. Lembro dos difíceis dias do trabalho final, onde por meses não tivemos mais finais de semanas livres, somente uma pilha de livros ao nosso lado e páginas e páginas para escrever. Em um destes muitos domingos, era um belo dia de sol. Terminei uma das etapas de meu trabalho e enviei a ela para as suas imprescindíveis e enriquecedoras observações. Pensei comigo: agora irei fazer outras leituras e esperar o retorno para a próxima semana. Passei a outra tarefa e depois de ter lido somente algumas páginas, ouvi o sol de uma nova mensagem chegando, era o meu trabalho corrigido. Assim, nunca foram somente os seus alunos que ralaram. Se tínhamos três ou quatro trabalhos para fazermos, ela tinha para corrigir os de dezenas de alunos, portanto o seu sacrifício sempre foi muitíssimo maior que o nosso. Jeane, quando eu crescer eu quero ser como você!!!!
            Conviver todos estes anos com tantas mulheres, foi uma experiência única e construtiva. Quantas nuanças do comportamento feminino eu pude aprender?
            Para nós nunca foi sacrifico ir para as aulas, pois além de aprendermos muito sobre a psicologia, também nos divertimos muito. Quantas horas de risadas nós demos? Quantos momentos felizes passamos juntos? É impossível descrever.
            Dirigir com elas é uma coisa que jamais esquecerei. Todas vocês mulheres conhecem a dificuldade que nós homens temos em prestar atenção em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Em uma viajem que fizemos, elas de copilotos me disseram: Entre ali Teddy, entra ali... Eu meio confuso perguntei: Mas, para a direita ou para a esquerda?
            Foi demais para elas... travaram... Eu havia exigido muito... Por fim uma delas respondeu, prá esta direita Teddy, prá esta direita... mostrando a dificuldade que as mulheres tem em saber qual é o lado direito, qual é o esquerdo.
            Já terminando o curso, tive outro aprendizado. Ao ler a planilha com suas alturas e peso, para o tamanho das becas, encontrei coisas assim: Peso, 54, 7 kg, 59,3 kg, 62,9. Vocês acreditam nisto homens? Por que será que as mulheres sempre arredondam o peso para menos e a altura para mais?
            O tempo passou célere e enfim chegamos ao final desta caminhada. No transcurso dos dias eu pude perceber uma lenta e bela transformação. Aquelas menininhas que iniciaram o curso há cinco anos, que morriam de medo ou de dó de nossos ratinhos, ou que tremiam ao apresentar um trabalho na frente dos demais colegas,  já não eram nem de perto mais as mesmas. Agora são mulheres. São psicólogas. São profissionais de algo gabarito das quais eu tenho imenso orgulho de ser amigo, de ser colega.

            Ana Paula, Aninha de meu coração. O que sinto por você é difícil descrever. A sua luz envolve, a energia que você emana é contagiante e, consegue ser maior que a sua beleza. Aliás, Deus foi muito generoso em sua beleza. Constantemente eu costumava brincar com ela dizendo que eu preferia as loiras, porém que a cada dia ao vê-la chegar, colocava em dúvida a minha preferência. Ana, conheço o tamanho de seu coração, a sua capacidade intelectual e emocional e tenho toda a certeza de que você será uma psicóloga muito competente. Te adoro.

            Ariel. Esta gauchinha também é muito especial para mim. Sempre admirei o seu jeito de ser. Você é alguém que não se convence com meias palavras. Muito dedicada, estudiosa e questionadora, fez a diferença em nossa turma. Quem teve o prazer de assistir a sua apresentação para a banca, viu ali uma profissional pronta para enfrentar as tantas nuanças de nossa nova profissão. Nunca esquecerei de nossas conversas. Se pude acompanhar algumas de suas dificuldades pela vida, também pude vibrar com as coisas boas, principalmente em saber da pessoa especial que surgiu em sua vida e que hoje é seu marido.

            Daiana. Daizinha querida. Como expressar em palavras o tanto de que te gosto? Você é mais uma das princesas que fizeram os meus dias mais alegres. Esta menina tem o abraço mais gostoso deste mundo. Quem tem a felicidade de recebê-lo, por certo será curado instantaneamente de qualquer coisa que lhe aflija a alma. Sua inteligência, seu carisma, sua amizade e o seu jeito meigo de ser sempre estarão em minhas lembranças. Mas como ninguém é perfeito neste mundo, ela também tem um enorme defeito: Ser Vascaína, e rocha. Dai, uma frustração eu carregarei comigo: a de não ter conseguido fazer você virar flamenguista, para que pudesse parar de sofrer com tantos vice-campeonatos.

            Francielle, a nossa Fran. Mais uma das belas e guerreiras de nossa turma. Batalhadora, sonhadora, mas acima de tudo alguém que não fica parada esperando as coisas acontecerem, ela vai a luta. Conseguiu conciliar o trabalho com os estudos, mesmo a custa de muitos sacrifícios. Nem por isto suas notas foram ruins e seus trabalhos mal feitos. Pelo contrário, zelo e busca pela perfeição são uma de suas características marcantes. Também ela encontrou sua alma gêmea durante os anos da faculdade e, pudemos nós estarmos juntos a ela na hora do sim.

            Ivânia, você é especial para mim. Ela é uma das mais inteligentes e dedicadas de nossa turma. Possuidora de uma simpatia sem igual, faz com que todos gostem dela ao primeiro contato. Grande batalhadora. Não somente trabalhava o dia todo, como também percorria diariamente mais de 200 km para poder assistir as aulas. Seus momentos de estudos eram dentro de um ônibus, nos finais de semana que tinha folga e muito comumente nas madrugadas adentro. A sua beleza é impar, porém há algo nela muito mais belo: o seu coração. A bondade que ela dispensa as pessoas, o interesse que tem em atender as necessidades dos menos favorecidos e o atendimento humanizado, são suas marcas. Quem resiste a tanta ternura e beleza?
            Neusa. Para esta amiga, nunca falta um sorriso nos lábios. O seu jeito discreto, sempre buscando um cantinho da sala e a companhia das pessoas que tinha mais afinidade. Para ela também não foi fácil chegar ao final. Conjugar as tarefas de servidora pública com as de estudantes lhe exigiram muitas renuncias do convívio familiar e de suas horas de descanso. Mas por certo valeu a pena. Hoje é o dia de receber o seu premio merecido sob os olhares de sua bela família.

            Rita. Começamos esta aventura de conquista do conhecimento juntos, e a concluímos também juntos. A vida também não foi fácil para ela. Lembro de nosso primeiro dia de aula, de como você chegou para as aulas, tendo se passado apenas poucos dias de uma cirurgia. Conviver com a Rita sempre foi muito divertido, pois toda a semana ela tinha uma história para nos contar. Certa vez comprou uma BIZ e voava as tranças apressadamente pelas ruas da cidade. Só que esqueceram de avisar os cães do bairro Guarujá que ela andava por aquelas ruas. Um belo dia, um deles quis testar as suas habilidade de motociclista e, eis que a Rita realiza um de seus sonhos: Ser socorrida pelo SAMU e ser capa de jornal.

            Simone, a nossa querida Sisi. Os desígnios superiores são mesmo imprevisíveis. Esta pessoa, como diz ela, nasceu no Amazonas. Filha de militar, andou pelos diversos rincões deste nosso imenso Brasil e acabou por conhecer e casar-se com um de meus queridos amigos e colega de profissão, também militar. Estava escrito que você um dia viria para o Sul e iria fazer psicologia na Facvest. Possuidora de uma inteligência muito acima da média, transita de um assunto para outro com muita facilidade. É difícil ter algo que ela não saiba pelo menos um pouco. Certa vez ela me comoveu profundamente, dizendo-me que eu era para ela o irmão que ela não teve, quase chorei. Minha irmã do coração, saiba que te admiro muito também. O seu coração é imenso e cheio de ternura, e nele cabe o mundo todo. A Simone veio de regiões bem mais quentes que a nossa e ai quis acabar com os vírus da gripe no Sul. Porém de uma forma não típica, atraindo todos os vírus para ela. Já há cinco anos ela pega uma gripe por semana mas ainda não deu conta de acabar com todos os vírus.

            Normalmente ao orador não é dada a oportunidade de falar de si mesmo, porém neste dia, com a permissão de todos, eu o farei...
            Há cinco anos, carregando ainda os pedaços de meu coração, entrei no curso de psicologia da Facvest e ali encontrei uma nova família. Pessoas maravilhosas me aceitaram em suas vidas e me proporcionaram momentos de muita alegria. Vocês meus amores são as responsáveis por eu voltar a sorrir. Se pude ser o brincalhão da turma e fazê-las dar muitas e boas risadas, foi porque encontrei em vocês o carinho e o alento de que precisava. Vocês mudaram a vinha vida, e para muito melhor.
            Apesar de tantos bons momentos eu chegava ao fim do curso ainda carregando resquícios de meu passado. Um tanto apático na vida, deixava os dias seguirem, a vida me levar. No entanto, quando parecia o final, algo muito especial aconteceu. Uma menina linda. Uma desconhecida que eu já conhecia a quase cinco anos, me desequilibrou. Com um jeito só dela, colocou todas as minhas verdades em dúvida. Me devolveu a alegria pela vida, me fez voltar a sonhar.
            Ivânia, você é alguém que me faz querer ser melhor a cada dia. Parafraseando Fábio Junior digo que: “Você é o amor que a vida me deu de presente, sou um homem maduro, mas a sua frente, não sou mais que um menino”. Eu te amo!

            Bem, como depois de toda a declaração de amor vem um pedido, eu vou fazer o meu... Meu amor e meus amores. Que nunca esqueçamos dos bons momentos vividos por nós, e que um dia, quem sabe bem mais tarde, ao lembrarmos destes momentos possamos dizer: Nunca fui tão feliz! Obrigado a todos.

domingo, 22 de julho de 2012

Porquê as mulheres choram...

            A hora de ela partir estava próxima...
            Eu a retinha em meus braços e, em um silêncio que fala muito mais do que palavras, nossos olhos namoravam-se.
            Em um gesto inconsciente de retê-la para sempre junto a mim eu a abracei, trazendo-a fortemente para junto do meu peito.
            O coração que outrora era meu, mas que hoje não mais me pertence sentia as batidas do coração dela.
            Os minutos passaram céleres...

            Em determinado momento eu senti o seu peito arfar de um jeito que eu já conhecia...
            Afrouxei os meus braços e a mirei. Então percebi que de seus olhos cor de mel, escorriam águas.
            Hoje eu sei o que isto significa. Porquê as mulheres choram, mesmo nos momentos mais felizes...
            Elas choram, não pelo momento de felicidade, mas por pensarem que talvez no futuro não tenham mais isto.
            Choram por sentirem-se compreendidas e amadas.
            Na presença de quem amam, choram por pensarem em uma futura separação.
            Depois de períodos de sombra, choram pela luz que lhes chegam ao coração.

            Em silêncio eu beijei os seus olhos, procurando enxugá-los.
            Ela ainda incapaz de falar sobre o que lhe ia na alma, emocionada falou: “Vá se acostumando, eu sou muito emotiva mesmo”, como se isto fosse algo que a desabonasse. Na verdade somente me faz admirá-la ainda mais.
            Em quantas situações hoje podemos deixar fluir o que sentimos?
            Na presença de quantas pessoas nos encorajamos a sermos o que realmente somos?
            Bem poucas, por certo...

            Minha Princesa, que seja assim para sempre. Que não nos furtemos a sermos o que realmente somos. A demonstrar o que realmente sentirmos e principalmente que nossos olhos nunca deixem de perceber isto.
            Te adoro!

            Lages-SC, 22 de julho de 2012.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Lágrimas de amor

Lágrimas de amor

            Ele olhou nos olhos dela e disse: - Preciso te falar algo que é muito importante para mim. Pela expressão que ele fez, ela percebeu que não se tratava de mais uma brincadeira e então, sentou-se sobre a ponta da cama e silenciou.
            - Você lembra o que escrevi em um de meus textos sobre esvaziar gavetas e armários? Ela respondeu que sim.
            - Pois bem, vou te mostrar de que eu estava falando. Eu falava disto, disto, disto... Foi falando ele enquanto abria uma série de gavetas e portas de armários, deixando a mostra diversas peças de roupas femininas.
            Ela pareceu ficar chocada, apenas olhava para ele. – Pois é, é isto. Já se passaram mais de seis anos, porém eu ainda não havia tido coragem de me desfazer das roupas dela, porém hoje me sinto encorajado... Você me ajuda a fazer isto? Ela moveu a cabeça afirmativamente, continuando em silêncio e olhando para os olhos dele...
            Ele sentiu-se novamente acolhido por ela. Em vez de censurá-lo ou fazer uma cena de ciúmes, ela olhava mais do que para os olhos dele, perscrutava a sua alma, a sua dor.
            Aquele olhar dizia muito mais do que simples palavras... Ele então sentou-se ao lado dela e a abraçou...
            Também ele não tinha mais palavras... Apertou-a fortemente de encontro ao seu peito e ficaram ali, duas almas afins, coração com coração.
Os minutos demoraram horas para passar...
Quando ele a soltou, procurou os olhos dela e os encontrou marejados... Percebeu sem surpresa que ela podia sentir toda a dor por qual ele já havia passado e o entendia. Sim, ela o entendia. O aceitava como era e estava disposta a ajudá-lo, por acreditar que ele merecia isto, que valeria a pena.
As mãos dele tocaram a pele branca e macia do rosto dela, enquanto ela continuava a fitá-lo de uma forma tão especial que ele jamais irá esquecer. Atordoado, instintivamente as mãos dele tentaram acariciar o coração dela, foi a forma que ele encontrou para agradecer.
- Vamos lá? Falou ele com convicção, levantando-se a um só movimento e quebrando a nostalgia que se instalava.
E assim foi...
Em alguns minutos as gavetas e armários ficaram vazios, enquanto caixas e sacolas se enchiam. Aquelas roupas seriam doadas e poderiam ser úteis a outras pessoas.
O coração dele também abria espaço para outro coração. Suas crenças sobre o amor estavam mudando. Ele agora acreditava que poderia sim amar novamente e este amor já tinha endereço certo.
Ele ouviu de muitas pessoas que o tempo curaria as feridas..., mas agora entendia que não era somente o tempo capaz de fazer isto, mas principalmente um coração capaz de fazer com que seu coração quisesse isto.
E foi assim...
Ela chegou a sua vida para o desequilibrar. Para revirar seu mundo certinho. Para quebrar a sua redoma cuidadosamente construída. Para por em dúvidas as suas maiores certezas.
Enfim, para ensinar-lhe a viver. A acreditar que vale a pena continuar vivendo e viver intensamente.

Obrigado minha linda bruxinha.

Florianópolis, 09 de julho de 2012.

domingo, 24 de junho de 2012

O primeiro beijo...

          - Eu tenho uma pergunta muito importante para te fazer, disse ele bem em frente a ela, segurando as sua mãos e olhando em seus olhos!
            O sol havia retornado naquele dia, para dar-lhe as boas vindas e iluminava o seu rosto, enquanto um pequeno tufo de vento fazia os cachos de seus cabelos dançarem ao ritmo do sobe desce das águas do chafariz. Em uma árvore ali perto, um casal de João-de-barro catavam freneticamente, comemorando a casa agora pronta. Dezenas de peixinhos coloridos, organizados como em um desfile, deslizavam no lago a frente deles.
            Ao ouvir isto ela sorriu, pois já o conhecia o suficiente para saber que aquele ar de seriedade nele, escondia mais uma de suas brincadeiras.
            - Pergunta importante... O que será? E voltou a sorrir, por alguns segundos tentou desviar o seu olhar do dele.
            - Você gosta realmente de cachorros? Disparou ele. Ela ainda sem entender direito, respondeu que sim, e que só não tinha um devido a não ter espaço em sua casa.
            - Mas por que você me perguntou isto? Disse ela novamente.
            - Porque os “meninos” lá de casa querem saber, pois somente assim eles aceitarão que eu namore com você.
            - Ela agora havia entendido a intenção dele, ergueu a cabeça e começou a rir. Ele aproveitou a oportunidade e a beijou, querendo com isto dizer a ela, seja bem vinda a minha vida.
            - Você me beijou? Falou ela sorrindo...
            - Beijei, respondeu ele a beijando novamente.

            Eles ficaram mais alguns minutos sentados ali em frente ao lago, como que absorvendo o esplendor da natureza para dentro de suas almas, depois se foram para outros caminhos, felizes como duas crianças.
           
            Almoço, supermercado, casa. Ele tinha milhões de promessas para dar conta, pois as havia listado em “motivos para você vir para Lages”.
            Ele pegou de seu violão, e inseguro, cantou a primeira música, Pássaro de Fogo. Aquela letra dizia muito dos dois. “Não diga que não. Não negue a você. Um novo amor.Uma nova paixão. Diz pra mim...”             Ela sorria, enquanto os seus olhos se procuravam...

            Como uma boa gauchinha, ela fez o “chima”, sentaram-se no jardim e passaram a conversar... Ela falou de sua vida, suas dores. Ele a ouvia interessado e, a cada palavra a admirava ainda mais. Depois foi a vez dele. Falou de suas experiências, seus fracassos. Ambos abriam seus corações um ao outro. Conheciam-se há quase cinco anos e sabiam tão pouco um do outro.
           
            Palestra, pipoca, cinema, muitos risos. Volta para casa.
            Aquela noite foi longa para ele. Repeliu o sono por horas, pois ele queria aproveitar cada segundo junto dela. Ele aprendeu a reconhecer o padrão da respiração dela quando dormindo. Riu sozinho ouvindo-a estalar os dedos mesmo dormindo. Seus pequenos tremores, seus sons. Tudo para ele era mágico. Sentia-se tão bem com ela em seus braços. Muitas vezes ele ergueu-se sorrateiramente e focou mirando o rosto dela. Como ela é linda! Dizia para si mesmo no silêncio de seus pensamentos.
            Longe dali um galo madrugador já ensaiava as primeiras notas... Ele a abraçou ainda mais forte, passou para a posição “de conchinha”, enfiou seus rosto nos cabelos dela, e deixou que o sono viesse.

            O sol veio novamente confundir-se com o dourado dos cabelos dela, mas eles ainda ficaram por muito tempo trocando carícias, beijos e olhando um para aos olhos do outro. Ele sempre tinha algo bobo para falar para ela, e riram muito. As paredes daquela casa já há muito não sentiam tais vibrações.

            Novamente cozinharam juntos. Ele fez os strogonoff e ela o arroz e a salada. A batata palha compraram pronta. Enquanto esperavam, entre um abrir e fechar de panelas, sorviam um gole de vinho tinto. Ela colocou o seu celular, super, super, hiper para tocar algumas músicas e começaram a dançar. Seus sorrisos e risos eram vida a espalhar-se por todos os recantos, ao mesmo tempo que também serviam de terapia curando feridas.
            Almoçaram pertinho um do outro e ele não deixava faltar no prato dela os champignons que ela adora.

            Os olhos dele baixaram, quando ela disse: - Está na hora, tenho que ir! Ele a viu entrar no ônibus já cheio de saudades. Sentiu-se como uma criança de quem roubaram o doce. Ficou ainda junto a rodoviária, esperando o último tchau e a viu sumir na longa avenida.
            Ela se foi mais uma vez... Ele lembrou dela sorrindo para ele, olhando em seus olhos e dizendo: - Quando eu partir, te deixarei estes tantos momentos lindos que vivemos juntos neste fim de semana para você lembrar.
            Aquilo o consolou... Iria ser seu alimento até o próximo encontro.
            Tchau minha menina dos cachinhos de ouro.


Lages, 24 de junho de 2012.

domingo, 10 de junho de 2012

Você me causou desequilíbrio!


A interiorização das ações supõe, assim, a sua reconstrução sobre um novo plano, e essa reconstrução pode passar pelas mesmas fases, mas com um maior desequilíbrio (décalage) do que a reconstrução anterior da própria ação.(Jean Piaget)


            É impressionante o poder que algumas pessoas têm sobre nós...

            Quando a encontrei, ela estava sentada sobre um sofá, mexendo em seu celular para passar o tempo, já que por um erro muito grave meu, eu estava atrasado. Sorriu para mim, nos abraçamos e seguimos para o nosso destino.
            O frio daquele dia era característico do nosso inverno na Serra Catarinense. As temperaturas já caindo abaixo de zero, provocavam profundas modificações a sua volta. As flores e o verde da praça logo em frente, já não existiam mais. A grama antes vistosa agora mostrava-se mirrada e, as folhas caídas das árvores rolavam sobre ela ao sabor dos tufos de vento. A sensação térmica era ainda mais contundente, o que nos fazia contrair os músculo e colarmos um no outro como uma forma autônoma de compartilhar calor. Destemidos, seguimos em frente...
            Adentramos o espaço da Festa do Pinhão e passamos a divagar pelos diversos locais, aproveitando que por ser cedo a multidão ainda não havia tomado conta de tudo. Mais tarde nos dirigimos até o palco principal e ficamos a esperar pela Paula Fernandes. As horas passaram e, fez com que o pequeno grupo que estava ali próximo a cerca, passasse a ser um pequeno ponto entre cinquenta mil pessoas.
            Assistimos ao primeiro show e depois passamos para outros locais, pois o sertanejo que viria depois não era a nossa praia. No palco tradicionalista nos demoramos por algum tempo, dançamos algumas milongas e vaneras e, depois experimentarmos a paçoca de pinhão e o entreveiro, fomos para casa.
            No outro dia, vimos algumas fotos de minhas viagens, fizemos um delicioso almoço e no meio da tarde ela partiu de volta para a sua cidade. No entanto nem ela mesma poderia imaginar o que deixaria para trás...

            Mesmo antes de o ônibus partir, eu já me sentia inquieto. Alguma coisa havia me desequilibrado... Sentia-me pensativo, inquieto. O que era isto?
            Voltei para casa mais ensimesmado ainda. Algumas frases dela insistiam em reverberar em meus pensamentos. Que coisa estranha!
           
            Em poucas horas recebi sua mensagem de que havia chegado em casa e que tudo estava bem. Me respondeu algumas coisas e terminou dizendo que eu havia esquecido de tocar para ela. Olhei o violão por sobre o sofá e pensei como nós dois poderíamos retribuir tanto carinho...

            A noite foi agitada... Dormindo, acordado, sonhando, a sensação era a mesma: Dúvidas! Eu tinha a impressão que o meu mundo certinho, a bolha que eu havia demoradamente construído, havia estourado e agora eu me sentia exposto, nu, diante de mim mesmo...
            Seus gestos e palavras continuavam a me rondar. Passei então a prestar mais atenção em meus pensamentos...
            Quem era esta desconhecida que eu conheço já há bastante tempo? Passeia a organizar as minhas memórias, por em ordem certos fatos.
            Os anos de convívio com ela haviam passado serenes. Sempre fomos bons amigos e estivemos juntos em tantas situações. Recordei o seu estilo quieta, que fala pouco apesar de sua enorme inteligência e, ai me dei conta de algo: Ela é uma ótima observadora! É isso! Pensei, as pessoas que falam menos podem concentrar sua atenção em reter muito mais detalhes do mundo a sua volta.
            Mas seria eu digno de sua atenção? Neste momento lembrei-me de algo que havia acontecido há mais de dois anos. Procurei em meu celular uma mensagem que ela havia me enviado naquela data e a encontrei, pois guardo nele as coisas que me tocam: “Tadeu! Assim como as demais pessoas, também te achei um pouco tristinho hoje. Não sei se é o que está acontecendo, mas caso em algum momento queira conversar...”. É, ela realmente é uma ótima observadora... Percebi que não foi somente naquele momento, mas em todo o nosso convívio. Provavelmente eu me surpreenderia ouvindo-a falar de coisas sobre mim...
            Bem, se ela é uma ótima observadora, acredito que eu também o sou. Assim passei a relembrar os fatos daquele nosso dia anterior...
            A sua postura é digna de se registrar. Se falarmos em ética e moral, ela é um exemplo vivo. Jamais notei algo que a desabone em qualquer sentido que seja.
            Me dei conta de como ela havia registrado cada momento, cada palavra minha. Não somente naquele dia, mas de outros também e, que me dava conta somente agora. Um exemplo disto foi que antes de voltar para casa, ela se dirigiu para o jardim de minha casa e observou tudo. Eu quis justificar que ele estava feio, pois agora devido ao inverno, as flores haviam secado e as folhas espalhavam-se pela grama. Mas o seu objetivo era outro e, então ela me perguntou: - Cadê a cascata que você disse que iria fazer ali naquele canto?
            Ela lembrava... Lembrava de algo que eu havia lhe dito a mais de um ano. Eu realmente não havia construído a cascata, nem o lago... E ela queria checar isto, pois nota o desânimo que eu ando já há bastante tempo... Ela estava me analisando...
            Não é a toa que é psicóloga. Saber observar é a primeira e principal característica de um psicólogo. Sobre isto, lembrei também que naquele dia, durante uma de nossas conversas, após eu lhe falar algumas coisas sobre mim, e perguntar o que ela achava daquilo. Sua resposta ainda ecoa: - Tedy, eu não sou a sua terapeuta! Que visão! Que postura! Desta forma ela deixou claro para mim a sua posição. Admiro muito as pessoas que sabem se posicionar de forma clara e atendendo as suas necessidades, não a de agradar aos outros.
            Nossas outras conversas também vieram. Lembrei-me de uma mais recente onde ela havia me dito que não acreditava que eu não estava fazendo terapia, pois em nossa profissão, sempre é importante estarmos sendo orientados por outro profissional. No entanto entendo agora que ela não se restringia a isto. Preciso lhe confessar que mesmo “você não sendo a minha terapeuta”, você fez comigo o que nenhuma terapeuta fez ainda: Você me fez questionar o mundo que eu construí para viver... Você mexeu com as minhas estruturas.
            Me senti muito bem em sua companhia. Dançando, rindo, tremendo de frio.
            Fazermos o almoço juntos foi maravilhoso! Há muito tempo eu não me sentia assim, nem cozinhar eu faço mais. Me senti cuidado. Motivado a fazer coisas que são muito simples, mas que ao mesmo tempo podem ser maravilhosas. Eu havia me esquecido disto... Você me fez sentir-me vivo. Você trouxe alegria para esta casa enorme e triste.
            Ontem olhei para estas paredes e móveis e vi coisas que já não via mais. Ajustei algumas portas de armários que estavam desalinhadas há anos. Recoloquei alguns parafusos de volta a seus lugares. Permiti-me até a pensar em esvazias certos armários e gavetas com guardam coisas há muito tempo.
            Quero que você saiba de uma coisa... Em vez de você ter vindo a Lages para assistir a um show qualquer, para fazer algo de que gosta. Você fez muito mais do que isto, mesmo não querendo fazer... Simplesmente sendo o que você é.
            Obrigado!

Lages, 10 de junho de 2012.

sábado, 12 de maio de 2012

Mulher Mãe

            Em uma noite de fevereiro, após meses de espera, você recebeu em seus braços carinhosos, aquele que gerou de suas próprias forças.
            A parti daí, seus dias e suas noites nunca mais seriam as mesmas. O pequenino precisou de alimento e você lhe deu seu seio. Precisou de cuidados e você deu dedicação exclusiva em detrimento de seu descanso, de suas horas de sono.
            Foi você quem lhe manteve a vida. Quem lhe ensinou a sorrir, a pronunciar as primeiras palavras, a equilibrar-se nos primeiros passos...
            Os anos foram passando céleres. Algumas vezes eram seus machucados resultantes das estripulias, outras vezes a febre, uma infecção de garganta, uma dor de ouvido. Em todos estes momentos, você foi a enfermeira abnegada, que a tudo curou.
            Por fim ele cresceu... ficou maior do que você mesma, se tornou-se adulto. Acabou ai sua atenção? Nem pensar...
            Aquele menino quis ser soldado. Viver em um regime duro, disciplinado. Diariamente teria contato com armas de fogo, com treinamentos físicos forçados e você temia por seu bem estar, por sua vida.
            Quantas vezes, depois de chegar ao local de alguma missão, ao procurar algo em sua mochila, ele encontrava as guloseimas que você habilmente havia ali infiltrado sorrateiramente, você não queria que seu menino passasse fome.
            Seu filho se achou homem. Seu coração apaixonou-se perdidamente e para sempre, por uma filha de outra mãe e ele alçou vôo para fora do ninho. Quantas lágrimas você derramou escondida? Quantos temores? Quanta falta no ninho vazio...
            O tempo passou mais ainda. Veio a primeira neta, a vida se renovava. Seu primogênito crescia profissional e intelectualmente, a vida seguia seu curso.
Seus lindos cabelos negros, agora já estavam prateados pelo tempo. Seu corpo já não dispunha mais de tantas energias, mas eis que seu filho cai novamente...
Desta vez, foi o maior de todos os tombos. Abriu-se uma ferida que jamais cicatrizaria. Seu bebê precisou de colo novamente e, você mulher mãe, não titubeou em socorrê-lo.
Você juntou forças que só as mulheres são capazes de conseguir e não deixou que se rebento morresse, mesmo que já houvesse folhas murchas. Com carinho imenso e abnegação, soube regar, orar e esperar. Você não podia fraquejar, um filho e uma neta precisavam de suas forças e de seu amor ilimitado.
Mãe, que a Mãe de todas as mães, sempre lhe abençoe e proteja de todos os perigos da vida. Que sua luz nunca se apague e que seus braços nunca se fechem. Que seu colo que hoje abriga seus filhos e seus netos, sempre seja o nosso porto seguro.
Parabéns pelo seu dia!
É o desejo de seu filho que somente existe, porque você existe.
Te amo!

Port-au-Prince, 08 de maio de 2011.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma garrafa de vinho, um violão e eu...

            Saí daquela sala decidido a voltar para casa...
            Para onde mais eu poderia ir?
            Quem sabe a um bar. Colocar uma garrafa em minha frente e afogar as minhas mágoas em alguns decilitros de álcool?
            Relutante, voltei para casa, afinal é ela que sempre me acolhe em todas as situações...
            Com o corpo no volante mas a mente em outros lugares, mecanicamente liguei o rádio, talvez na esperança de ele não me fazer tão só...
            O único que me aceitou naquela hora, emitia sons de todas as tribos... Parei em uma estação. Leonardo usava de toda a sua bela voz em mais uma canção de amor...        Amor? O que significa isto para um coração vazio? Talvez somente palavras... “Preciso juntar os pedaços do meu coração” dizia o cantor...
            Esta frase marcou-me naquele momento. Será que eu poderia fazer isto? Onde andam os pedaços de meu coração?
            Não sei...
            Ao pulsar de meus dedos no controle, o portão se abriu...
            Me vi dentro de meu carro, sob minha casa, mas me sentindo como alguém que não tem para onde ir....
            Outra música tocava e, me debruçando sobre o volante, fiquei ali, imóvel, alheio a tudo.
            Para onde iria agora? Quem esperava por mim?
            Subitamente me veio à memória as pessoas que me amaram, que gostariam de estar comigo naquele momento, mas que eu as afastei, por não conseguir continuar...
            Quem escolhe de quem gostar? Não, não escolhemos! Mente quem diz que a convivência propicia o amor. Um amor diferente, um amor companheiro, um amor ágape. Quem se contenta com isto?
            Não, não nos contentamos! Lembrei do que disse hoje a uma de minhas pacientes: “ Que mal há em sentirmos tesão, desejo por alguém? Isso ocorre com todos nós, nos momentos mais inesperados. Porém simplesmente disfarçamos, encaramos como pecado, como coisa errada e jogamos este desejo para debaixo do tapete1”.
            Ah, mascara nossa do dia-a-dia! O que seríamos de nós sem você?
            O que queremos na verdade é um amor que nos faça duvidar de tudo em que acreditamos. Que nos faça votar a ser criança, que mexa, destrua o nosso mundo tão certinho e tão previsível. O que queremos é coração acelerado, é mãos suadas e frias, é aquele arrepio nos fazendo nus diante do outro.
            Onde está este alguém?
            Talvez esteja entre as multidões. Talvez seja alguém que já passou por nossas vidas certinhas e planejadas e que repelimos, pois primeiro precisaríamos cuidar de nosso futuro, nossa formação acadêmica, um bom emprego...
            Falácia! Falácia sim, pois muitos corações com a conta milionária, com o emprego dos sonhos, com a fama aos seus pés, duvidam que exista um amor de verdade.
            Os anos poderão passar, nossos objetivos do “ter” talvez já tenham sido atingidos, porém olhamos para a nossa trajetória e nos sentimos tão pequenos...
            Em que momento nos perdemos? Impossível descobrir....
            Os dedos apertam as cordas de aço na nota da partitura e uma garganta tocada pelo vinho branco, procura reproduzir a letra... “preciso juntar os pedaços do meu coração”... Onde está o meu coração? Poderia juntar os pedaços?

 Lages-SC, 13 de abril de 2012.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Azul da cor do céu.

De frente para a janela eu observava a paisagem que se desenhava a minha frente... Bem ao centro estava um belo pinheiro. O rei das florestas do Sul, majestoso exibia seus galhos verdes cujo conjunto harmonioso lhe dá a forma de cone. À direita, estava uma enorme Acácia Branca que, a espessura de seu tronco denunciava os longos anos que já tinha vivido. À esquerda, alguns Pé-de-Prata exibiam-se faceiros. Era o segundo dia do Outono e suas fartas folhas já amarelando, começavam a desprenderem-se de seus galhos, entapetando o chão antes desnudo. Lembrei da velha Londres de outros dias.
A fotografia era belíssima, pelo menos assim pensava eu, até que meus olhos ergueram-se e encontraram os seus... Acima da paisagem descrita por mim, havia um céu límpido e azul, que em contraste com o verde dos pinheiros, o prata das Acácias e com o ouro das folhas da Prata, criavam um espetáculo de cores. Como não lembrar-me de você?
            Neste momento me dei conta de que jamais eu ficaria sem poder ver você, pois bastaria olhar para cima e vendo o céu azul, lembraria de teus lindos olhos. E nos dias cinzentos e chuvosos? Perguntaria o leitor mais atento. Mesmo ai eu te veria...
O céu cinzento me lembrará você, quando juntinho ao meu corpo, me dava o abraço mais gostoso do mundo e, naqueles breves momentos só meus, você fechava seus olhos para sentir somente os meus braços lhe envolvendo, quem sabe somente o meu perfume.
Os teus olhos marejados que tantas vezes eu vi, vertendo o desafio de uma apresentação em público, a compaixão de uma história triste que nos contavam, ou ainda a alegria de uma cena que lhe marcava um reencontro ou uma despedida, será do que eu lembrarei nos dias chuvosos.
Hoje ainda eu a encontrei em meus sonhos. Naqueles momentos tão meus, eu vivi alegrias tão nossas. Tudo foi perfeito, alegre, espontâneo. O prazer de estar contigo em cada segundo vivido ficou gravado em meu coração. Nessa noite não éramos apenas amigos, éramos um casal muito feliz, éramos amantes apaixonados, éramos uma família.
Freud poderia afirmar que os desejos inconsciente de minha mente, haviam criado a representação de uma ilusão ideal. Ilusão? Como poderia ser uma ilusão, estes momentos tão vividos, tão cheios de carinho, prazer, alegria? Talvez ilusão seja eu acordado, estar longe de seus lindos olhos azuis.

Lages-SC, 22 de março de 2012.