quinta-feira, 19 de maio de 2011

A solidão!


            Acordei! Os resquícios de meus sonhos ainda bailavam em minha memória e meus olhos demoravam-se a abrirem-se. Respirei profundamente e sentindo o ar frio que penetrava pelas minhas narinas, puxei as cobertas para mais próximo de meu corpo. Sentindo-me apertado por elas, cheguei a sentir prazer. Imediatamente refleti sobre a minha condição atual em que o toque do edredom aquecido era o maior toque de afeto de que dispunha naquela hora.
            Este pensamento me remeteu ao mensuramento do tamanho de minha solidão. A luz do novo dia começava agora a entrar pelos espaços mal fechados das persianas e eu permanecia ali inerte. Por que deveria levantar-me? Eu me perguntava. O que tenho de importante para fazer? O que ou quem me espera? Não encontrei respostas...
            Pensamentos viam-me a mente, mas antes que se fixassem eu passava-lhes o apagador de minha realidade. Não, isto não será mais possível. Você já teve a sua chance. Conforme-se, muitos nunca tiveram o que você já teve. É verdade...
            O primeiros raios de sol começavam agora a ultrapassar a barreira brumosa, dando ao quarto cores esmaecidas. Como um obsessivo-compulsivo, comecei a observar cada detalhe. Primeiro foi o formato retangular do forro de cedro, onde a se destacavam a harmonia dos encaixes feitos pelo carpinteiro. O spot, as lâmpadas, o brilho do verniz. Em seguida enquadrei a parede a frente e vi minha própria imagem refletida no espelho sobre a penteadeira, o que ele pensaria de mim? Em algum momento meu super-ego se deu conta de meus devaneios inúteis e desisti do treino de observação.
            Há quanto tempo eu estava assim? Como cheguei a este ponto? Poderia um dia retornar a “normalidade”.
            Apertei ainda mais as cobertas sobre meus ombros e fechei novamente os olhos. Um novo suspiro longo substituiu as lágrimas. Por que devo levantar-me?
            Busquei novamente as lembranças de meus sonhos, mas elas já não tinham mais nitidez. O que há algumas horas eram pura realidade, agora esvaneciam-se rumo ao meu inconsciente. Que pena!
            Abri os olhos novamente, sabendo que não podia mais permanecer ali. Olhei tudo ao redor mais uma vez e contei os dias em que não os teria mais. Quatro. Só me restavam quatro dias. Seria isto ruim ou seria bom?
            A volta ao lar me trouxe um misto de alegria e tristeza. Alegria por rever o meu cantinho, meu violão, meus familiares e amigos. Tristeza porque os sonhos são somente sonhos e quando os colocamos a prova nos damos conta de suas impossibilidades.
            Talvez, estar longe de tudo e de todos, manter o corpo e a mente ocupada com outros afazeres seja mesmo o melhor. É nestes momentos que a sedução de me perder no mundo se torna mais forte. Quem sabe se ainda não farei isto? A tentação é grande...
           
A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas prima irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração.
                                                                      
Lages, 19 de maio de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário