Letras e Lágrimas
Psicólogo, Professor, Administrador, um estudioso da Psicologia humana e eterno crente no ser humano. Meus textos falam de saudades, tristezas, faltas, alegrias e vivências ao longo de minha vida. As primeiras postagem estão relacionadas a fatos e experiências vividas quando fiz parte da Força de Paz da ONU para a Estabilização do Haiti (primeiro semestre de 2011). Obrigado por estar aqui. Suas opiniões e sugestões serão muito importante. Tadeu
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Quando eu amo a minha escolha - Por Arielle Souza
- Sempre fui do tipo de pessoa que queria resposta pra tudo, entender o porque disso, daquilo, ou como funciona a mente humana. Por influência "justiceira" do meu signo, por tempo sempre quis resolver e estar bem com todo o mundo.
Einstein fala que tem duas coisas que você pode ver no mundo: Que tudo é um milagre, ou que nada é um milagre. E você tem que decidir, se você está num lugar, num universo que é bom, e que quer sempre o teu melhor, ou eu tenho que me preocupar com tudo, eu tenho que pensar como a minha vida vai ser. Então o milagre é quando tu mudas tua percepção. Tu sai do medo e entra no AMOR. Quando tu escolhe de novo.
Enquanto a gente achar que não tem família, que o mundo está contra a gente, que não somos entendidos, a gente não entendeu nada.
O conselho pro outro é o conselho pra ti. Então se eu falo assim: Eles deveriam me entender, ou deveriam pensar diferente! O quanto eu consigo entender o fato de eles não me entenderem?
Perai. Eu também não consigo entender o fato de que eles também não me entendem. Então não são só eles que não me entendem, eu também não entendo eles, (a gente não é tão diferente assim, somos duas pessoas com dificuldades de entender o outro), ele é só mais uma pessoa que também não entende, como eu.
Qualquer conselho que tu darias para qualquer pessoa é pra você. E isso mudou a minha vida completamente, diariamente. Não precisa ir longe, a pessoa mais difícil de amar está aqui bem na minha frente, começa por aqui e só agora eu pude notar.
Então eu entendi que o tempo inteiro a gente ta sentindo só o que é a gente. Quando eu odeio alguém ou não odeio, sou eu, não tem haver com a outra pessoa. Quando eu sinto amor ou não sinto, tem haver comigo.
Todo mundo ta num sonho. Você prefere ta num sonho bom ou num pesadelo? O pesadelo é quando eu escuto: Eu te amo! E eu falo: Não! É mentira. O sonho bom é quando eu escuto que tu me ama e não importa se é verdade ou mentira. Eu acesso meu próprio amor. Então é sempre a gente sozinho, nunca é o outro, nunca. E isso é lembrar quem a gente é!
Aconteceram muitas mudanças, e foi preciso isso pra eu poder me dar conta de que a gente tá sempre em busca, todo o tempo, mesmo inconscientemente. Quando alguma coisa não tá dando certo, é a tua busca ali te mostrando. A gente ta em busca da gente o tempo inteiro. E precisa acontecer algo pra te mostrar pra onde você tem que olhar.
Quando a gente desfaz uma mínima crença, quando a gente ainda acredita no ódio e na separação, quando uma pessoa faz isso, ela desfaz pra todo mundo. Porque a gente é uma consciência só. Todos estamos conectados. Quando qualquer pessoa consegue perdoar alguém, isso é um milagre, eu saio do medo e entro no Amor. Eu libero todo mundo, uma pessoa a menos acreditando no ódio, uma pessoa a menos acreditando que precisa manter o não perdão dentro dela, que precisa manter uma mágoa, então eu limpo, pra todo mundo. Não é mágico? Esse é o poder do milagre, a gente faz pra todo mundo, a gente tá nessa juntos!
É infinito o poder do milagre, é anos e anos na nossa Evolução. E esse é o grande benefício do milagre, quando tu começa a fazer escolhas de Amor. Quando tu começa a sentir amor por todo mundo, e tu começa a se sentir conectado com todo mundo, tu não cria diferença, tu não cria distância, tu não cria ressentimento, tu não cria separação.
As vezes a gente se pergunta errado. As vezes a gente se pergunta: Por que isso tá acontecendo? Isso não trás nenhuma resposta criativa. Tem que saber fazer a pergunta. Se eu acredito que estou num universo que é milagroso que é bom, Por que que é bom pra mim isso que está acontecendo? A resposta é bem diferente.
Eu vejo tanta gente sofrendo, eu vejo que o sofrimento é tão desnecessário, nao que ele não tenha uma utilidade, mas ele não é necessariamente necessário. Existe um outro caminho, a gente pode aprender não pela dor.
E essa oportunidade me emociona, isso faz parte de um milagre, eu poder compartilhar isso com você. Parei de tentar entender. A meditação me trouxe, e comecei a sentir, e então pude abrir um espaço de gratidão no meu coração, e perceber que na medida que eu me libero, libero você!
Você não acha que a Vida é mesmo fantástica? Gratidão por ser quem você é!
Arielle Souza
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Prelúdio de tempestade
O João-de-barro caminhava entre a
grama recém-cortada, procurando o que lhe sustenta a vida e, uma gota
cristalina carregada pelo vento mensageiro da tempestade, atingiu suas plumas.
Lá para as bandas do Caveiras um relâmpago prenunciou o ruidoso trovão. O céu
azul agora vestido em uma névoa branca dava-me a noção do que veria a seguir.
Olhei para o jardim, que alheio à
profecia, vicejava cores e perfumes. A minha Bugaville, cultivada e protegida
com tanto esmero, agora recompensava-me com suas flores em um rosa vivo. Os
copos-de-leite amarelo, preguiçosamente desenrolavam suas folhas pintadas em
verde e branco, para fazerem par com a nova flor.
Mais e mais trovões e, a passarada
em vez de assustada, parecia-me que cantava ainda mais alto, talvez entendendo
que assim afastariam o dilúvio.
No jardim ao fundo uma sabiá
laranjeira iniciou o seu gorjeio, o mesmo que em todos os finais de tarde do
Sul, ela nos brinda. Maravilhado e como que hipnotizado pelo seu canto, fui a
sua direção.
Lá estava ela... Posada sobre a aroeira
e afinada com o universo, suas notas reverberaram em meu espírito. O vento que
se fazia ainda mais forte, remexia as suas plumas vermelhas castanhas e,
imponente equilibrava-se sobre um pequeno galho.
Lembrei-me de meu já velho pai...
Quanto ele me ensinou sobre a natureza... Quantos ninhos já geraram novas azas,
no pequeno espaço de terra que milha filha nomeou “floresta do vovô”.
Ben-ti-vis, Anus, Tico-ticos, Suiris,
Tesoureiros, Curicacas, Beija-Flores, Grimpeiros, Sanhaços, Sabias Laranjeiras
e Sábias do Campo, Chupins, João-de-barro, Pombinhas-das-Almas, e tantos
outros, ali vem fazer seus ninhos e comer das suas frutas.
Maracujá, Ingá, Sete capote, Pera,
Caqui, Cereja, Ameixa cambará, Pitanga, Pé-de-galinha, Pinhão, Limão, Laranja, Gabirova,
Uvaia e tantos outros, revezam os doze meses, de forma a não faltar o alimento
aos senhores do ar.
Obrigado meu pai, por me ensinar a
reconhecer os pássaros e as frutas, já ensaiando também a parte que me cabe
continuar.
Aspirei profunda e lentamente o
cheiro de terra molhada que emergia de nosso chão sulino e, deixei que as gotas
que se perderam da tempestade viesse ao meu encontro. Ao meu lado brincavam meus
dois mascotes que a cada trovoada se aproximavam mais de mim. Acariciei-lhes as
cabeças.
A chuva desviou-se... Deve ter dado
certo o pedido dos pássaros. Eu, por minha vez, peguei o meu violão e mesmo
sabendo que jamais me aproximarei de suas melodias, procurei os acompanhar.
domingo, 2 de setembro de 2012
Discurso de Formatura
Há cinco anos, em um grupo de mais
de trinta pessoas iniciávamos a caminhada rumo ao título de Psicólogo, sem nem
mesmo sabermos o que era a ciência chamada Psicologia. Já no primeiro dia de
aula, o professor Gustavo abalou as nossas concepções oriundas do senso comum,
nos deixando sem rumo.
A primeira aula deu lugar a dezenas
de outras e a confusão foi ficando ainda maior. Teoria da Personalidade?
Insight? Figura e Fundo? Reforço? Punição? Modelagem de comportamento? Idi, Ego
e Super-Ego? O que seria tudo isto? A tensão aumentava dentro de nós. Não
existe uma psicologia, mas várias psicologias, nos provocava a professora
Kenny... Como assim? Nos perguntávamos.
As aulas de Embriologia e Genética,
morfo-fisiologia do sistema nervoso iam nos introduzindo nas complexas
formações orgânicas do ser humano, enquanto nas disciplinas de Análise
Experimental do Comportamento e Psicologia Experimental, a professora
Alessandra fazendo uso de seus mascotes, os Gerbilos da Mangólia e do Rato
Branco, nos apresentava a teoria e a prática da psicologia comportamental.
Mais e mais disciplinas vieram. As
dinâmicas de grupo, a Psicologia do Desenvolvimento, da Aprendizagem, Educacional
e Escolar, Social e Comunitária, da Saúde e Hospitalar, Organizacional e do
Trabalho, Institucional e os testes psicométricos e projetivos, ampliaram
imensamente a nossa gama de conhecimentos.
Quando já achávamos que sabíamos de
alguma coisa vieram o estudo das escolas psicológicas. Psicanálise, Gestalt,
Psicologia Humanista, Existencialista, Comportamental. Achávamos que era muita
coisa para a nossa cabeça. Bateu o desespero sem sabermos que o pior ainda
viria...
E veio... Tinha nome e estilo
próprio... Era o professor Fábio com a Psicofisiologia, a Neuropsicologia, a
Psicologia Cognitivo-Comportamental, a Psicofarmacologia. Éramos felizes e não
sabíamos.... Utilizando-se de seus métodos de “motivação” ao estudo, ou
“provas” para os leigos, nos deixou definitivamente mais próximos da linha
entre a normalidade e a loucura. A cada disciplina ele não se contentava com
pelo menos um livro inteiro para lermos, do qual depois ele tirava do meio das
500 páginas algumas perguntinhas para a prova. Além é claro das demais provas
que a cada quinze dias ele nos presenteava. Como ele conseguia fazer com que
quatro ou cinco questões pudessem envolver todo o conteúdo? Professor Fábio, um misto de amor e ódio era
o que sentíamos por você. Ódio pelo nível da cobrança, pelas nossas muitas
noites sem dormir direito, pelos consecutivos finais de semana estudando, pelas
notas das provas. Amor? Deixe eu tentar lembrar de alguma coisa... Ah sim, tem
um fato, mesmo que só feminino. Amor era só nos momentos em que você todo
encalorado, nas noites frias de inverno, tirava a sua blusa deixando aparecer
um pouco de sua barriga sarada, fazendo a meninada suspirar.
Mas não foi só ele. Também a professora
Márcia nos causou impacto, na primeira aula de Psicopatologia, nos questionando
sobre o que era loucura. Dizia ela: “O que é normal e o que não é normal?” Não
sabíamos responder. Ela foi pouco a pouco destruindo as nossas pré-concepções e
preconceitos, nos transformando em pessoas possuidoras de um maior entendimento
sobre o assunto e, desenvolvendo a nossa visão crítica. Muito mais você nos
trouxe: A dinâmica dos chamados “segredos de família” e Psicologia do Trânsito,
a Psicoterapia Breve, a Terapia Familiar. Com o Psicodrama você decepcionou as
meninas quando mostrou uma foto de Moreno, pois ai elas perceberam que ele não
tinha nada de moreno alto, lindo e sensual.
A professora Jossora, que nos
contagiou com seu jeito carismático de ser e nos trouxe a Psicologia hospitalar
e da Saúde, a das necessidades especiais e por fim, tópicos muito atuais sobre
os transtornos relacionados a percepção corporal e ao comportamento compulsivo.
A professora Kenny, nos legou as
diversas teorias da personalidade. Nos ensinou as dinâmicas de grupos, a ética
do psicólogo, a importância e o cuidado nas lides da Psicologia Jurídica.
Sempre muito amiga e dedicada, tudo fez para a nossa construção não só do
conhecimento, como também de profissionais com caráter e comprometimento.
A professora Tânia nos desvendou os
intricados processos da aprendizagem. A visão de Vygotski, Piaget, Carl Roger e
tantos outros teóricos da aprendizagem, são dominados por ela com facilidade,
dando-nos aula semestres inteiros sem nem mesmo precisar pegar em um livro ou
texto. Nos ensinou sobre a psicoterapia infantil, sobre a Gestalt e enfim
compreendermos o que era insight, figura e fundo e os demais conceitos da Teoria das formas.
Por fim, resta-nos falar de uma
pessoa também muito especial para nós. Ela tem uma maneira toda sua de ser e
uma capacidade enorme de cativar seus alunos. Chama-se professora Jeane. Foi
ela a quem coube a importantíssima tarefa de nos orientar na maioria de nossos
estágios e no trabalho de conclusão de curso, o famigerado e temido TCC. Quem a
vê pelos corredores vai sempre encontrá-la com pelo menos uma mochila as costas
e mais uma grande bolsa nas mãos. São as suas ferramentas de trabalho ou a
grande quantidade de trabalhos de seus alunos que ela carrega como se fosse um
brinquedo novo nas mãos de uma criança. Reclama ela? Nunca, na verdade percebe-se
o prazer que ela tem com tudo isto. Lembro dos difíceis dias do trabalho final,
onde por meses não tivemos mais finais de semanas livres, somente uma pilha de
livros ao nosso lado e páginas e páginas para escrever. Em um destes muitos
domingos, era um belo dia de sol. Terminei uma das etapas de meu trabalho e
enviei a ela para as suas imprescindíveis e enriquecedoras observações. Pensei
comigo: agora irei fazer outras leituras e esperar o retorno para a próxima
semana. Passei a outra tarefa e depois de ter lido somente algumas páginas,
ouvi o sol de uma nova mensagem chegando, era o meu trabalho corrigido. Assim,
nunca foram somente os seus alunos que ralaram. Se tínhamos três ou quatro
trabalhos para fazermos, ela tinha para corrigir os de dezenas de alunos,
portanto o seu sacrifício sempre foi muitíssimo maior que o nosso. Jeane,
quando eu crescer eu quero ser como você!!!!
Conviver todos estes anos com tantas
mulheres, foi uma experiência única e construtiva. Quantas nuanças do
comportamento feminino eu pude aprender?
Para nós nunca foi sacrifico ir para
as aulas, pois além de aprendermos muito sobre a psicologia, também nos
divertimos muito. Quantas horas de risadas nós demos? Quantos momentos felizes
passamos juntos? É impossível descrever.
Dirigir com elas é uma coisa que
jamais esquecerei. Todas vocês mulheres conhecem a dificuldade que nós homens
temos em prestar atenção em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Em uma viajem que
fizemos, elas de copilotos me disseram: Entre ali Teddy, entra ali... Eu meio confuso
perguntei: Mas, para a direita ou para a esquerda?
Foi demais para elas... travaram... Eu
havia exigido muito... Por fim uma delas respondeu, prá esta direita Teddy, prá
esta direita... mostrando a dificuldade que as mulheres tem em saber qual é o
lado direito, qual é o esquerdo.
Já terminando o curso, tive outro
aprendizado. Ao ler a planilha com suas alturas e peso, para o tamanho das
becas, encontrei coisas assim: Peso, 54, 7 kg, 59,3 kg, 62,9. Vocês acreditam
nisto homens? Por que será que as mulheres sempre arredondam o peso para menos
e a altura para mais?
O tempo passou célere e enfim
chegamos ao final desta caminhada. No transcurso dos dias eu pude perceber uma
lenta e bela transformação. Aquelas menininhas que iniciaram o curso há cinco
anos, que morriam de medo ou de dó de nossos ratinhos, ou que tremiam ao
apresentar um trabalho na frente dos demais colegas, já não eram nem de perto mais as mesmas.
Agora são mulheres. São psicólogas. São profissionais de algo gabarito das
quais eu tenho imenso orgulho de ser amigo, de ser colega.
Ana
Paula, Aninha de meu coração. O que sinto por você é difícil descrever. A
sua luz envolve, a energia que você emana é contagiante e, consegue ser maior
que a sua beleza. Aliás, Deus foi muito generoso em sua beleza. Constantemente
eu costumava brincar com ela dizendo que eu preferia as loiras, porém que a cada
dia ao vê-la chegar, colocava em dúvida a minha preferência. Ana, conheço o tamanho
de seu coração, a sua capacidade intelectual e emocional e tenho toda a certeza
de que você será uma psicóloga muito competente. Te adoro.
Ariel.
Esta gauchinha também é muito especial para mim. Sempre admirei o seu jeito de
ser. Você é alguém que não se convence com meias palavras. Muito dedicada,
estudiosa e questionadora, fez a diferença em nossa turma. Quem teve o prazer
de assistir a sua apresentação para a banca, viu ali uma profissional pronta
para enfrentar as tantas nuanças de nossa nova profissão. Nunca esquecerei de
nossas conversas. Se pude acompanhar algumas de suas dificuldades pela vida,
também pude vibrar com as coisas boas, principalmente em saber da pessoa
especial que surgiu em sua vida e que hoje é seu marido.
Daiana.
Daizinha querida. Como expressar em palavras o tanto de que te gosto? Você é
mais uma das princesas que fizeram os meus dias mais alegres. Esta menina tem o
abraço mais gostoso deste mundo. Quem tem a felicidade de recebê-lo, por certo
será curado instantaneamente de qualquer coisa que lhe aflija a alma. Sua
inteligência, seu carisma, sua amizade e o seu jeito meigo de ser sempre
estarão em minhas lembranças. Mas como ninguém é perfeito neste mundo, ela
também tem um enorme defeito: Ser Vascaína, e rocha. Dai, uma frustração eu
carregarei comigo: a de não ter conseguido fazer você virar flamenguista, para
que pudesse parar de sofrer com tantos vice-campeonatos.
Francielle,
a nossa Fran. Mais uma das belas e guerreiras de nossa turma. Batalhadora,
sonhadora, mas acima de tudo alguém que não fica parada esperando as coisas
acontecerem, ela vai a luta. Conseguiu conciliar o trabalho com os estudos,
mesmo a custa de muitos sacrifícios. Nem por isto suas notas foram ruins e seus
trabalhos mal feitos. Pelo contrário, zelo e busca pela perfeição são uma de
suas características marcantes. Também ela encontrou sua alma gêmea durante os
anos da faculdade e, pudemos nós estarmos juntos a ela na hora do sim.
Ivânia,
você é especial para mim. Ela é uma das mais inteligentes e dedicadas de nossa
turma. Possuidora de uma simpatia sem igual, faz com que todos gostem dela ao
primeiro contato. Grande batalhadora. Não somente trabalhava o dia todo, como
também percorria diariamente mais de 200 km para poder assistir as aulas. Seus
momentos de estudos eram dentro de um ônibus, nos finais de semana que tinha
folga e muito comumente nas madrugadas adentro. A sua beleza é impar, porém há
algo nela muito mais belo: o seu coração. A bondade que ela dispensa as
pessoas, o interesse que tem em atender as necessidades dos menos favorecidos e
o atendimento humanizado, são suas marcas. Quem resiste a tanta ternura e
beleza?
Neusa.
Para esta amiga, nunca falta um sorriso nos lábios. O seu jeito discreto,
sempre buscando um cantinho da sala e a companhia das pessoas que tinha mais
afinidade. Para ela também não foi fácil chegar ao final. Conjugar as tarefas
de servidora pública com as de estudantes lhe exigiram muitas renuncias do
convívio familiar e de suas horas de descanso. Mas por certo valeu a pena. Hoje
é o dia de receber o seu premio merecido sob os olhares de sua bela família.
Rita.
Começamos esta aventura de conquista do conhecimento juntos, e a concluímos
também juntos. A vida também não foi fácil para ela. Lembro de nosso primeiro
dia de aula, de como você chegou para as aulas, tendo se passado apenas poucos
dias de uma cirurgia. Conviver com a Rita sempre foi muito divertido, pois toda
a semana ela tinha uma história para nos contar. Certa vez comprou uma BIZ e
voava as tranças apressadamente pelas ruas da cidade. Só que esqueceram de
avisar os cães do bairro Guarujá que ela andava por aquelas ruas. Um belo dia,
um deles quis testar as suas habilidade de motociclista e, eis que a Rita
realiza um de seus sonhos: Ser socorrida pelo SAMU e ser capa de jornal.
Simone,
a nossa querida Sisi. Os desígnios superiores são mesmo imprevisíveis. Esta
pessoa, como diz ela, nasceu no Amazonas. Filha de militar, andou pelos
diversos rincões deste nosso imenso Brasil e acabou por conhecer e casar-se com
um de meus queridos amigos e colega de profissão, também militar. Estava
escrito que você um dia viria para o Sul e iria fazer psicologia na Facvest.
Possuidora de uma inteligência muito acima da média, transita de um assunto
para outro com muita facilidade. É difícil ter algo que ela não saiba pelo
menos um pouco. Certa vez ela me comoveu profundamente, dizendo-me que eu era
para ela o irmão que ela não teve, quase chorei. Minha irmã do coração, saiba
que te admiro muito também. O seu coração é imenso e cheio de ternura, e nele
cabe o mundo todo. A Simone veio de regiões bem mais quentes que a nossa e ai
quis acabar com os vírus da gripe no Sul. Porém de uma forma não típica, atraindo
todos os vírus para ela. Já há cinco anos ela pega uma gripe por semana mas
ainda não deu conta de acabar com todos os vírus.
Normalmente ao orador não é dada a
oportunidade de falar de si mesmo, porém neste dia, com a permissão de todos,
eu o farei...
Há cinco anos, carregando ainda os
pedaços de meu coração, entrei no curso de psicologia da Facvest e ali encontrei
uma nova família. Pessoas maravilhosas me aceitaram em suas vidas e me
proporcionaram momentos de muita alegria. Vocês meus amores são as responsáveis
por eu voltar a sorrir. Se pude ser o brincalhão da turma e fazê-las dar muitas
e boas risadas, foi porque encontrei em vocês o carinho e o alento de que
precisava. Vocês mudaram a vinha vida, e para muito melhor.
Apesar de tantos bons momentos eu
chegava ao fim do curso ainda carregando resquícios de meu passado. Um tanto
apático na vida, deixava os dias seguirem, a vida me levar. No entanto, quando
parecia o final, algo muito especial aconteceu. Uma menina linda. Uma
desconhecida que eu já conhecia a quase cinco anos, me desequilibrou. Com um
jeito só dela, colocou todas as minhas verdades em dúvida. Me devolveu a
alegria pela vida, me fez voltar a sonhar.
Ivânia, você é alguém que me faz
querer ser melhor a cada dia. Parafraseando Fábio Junior digo que: “Você é o
amor que a vida me deu de presente, sou um homem maduro, mas a sua frente, não
sou mais que um menino”. Eu te amo!
Bem, como depois de toda a
declaração de amor vem um pedido, eu vou fazer o meu... Meu amor e meus amores.
Que nunca esqueçamos dos bons momentos vividos por nós, e que um dia, quem sabe
bem mais tarde, ao lembrarmos destes momentos possamos dizer: Nunca fui tão
feliz! Obrigado a todos.
domingo, 22 de julho de 2012
Porquê as mulheres choram...
A
hora de ela partir estava próxima...
Eu
a retinha em meus braços e, em um silêncio que fala muito mais do que palavras,
nossos olhos namoravam-se.
Em
um gesto inconsciente de retê-la para sempre junto a mim eu a abracei,
trazendo-a fortemente para junto do meu peito.
O
coração que outrora era meu, mas que hoje não mais me pertence sentia as
batidas do coração dela.
Os
minutos passaram céleres...
Em
determinado momento eu senti o seu peito arfar de um jeito que eu já
conhecia...
Afrouxei
os meus braços e a mirei. Então percebi que de seus olhos cor de mel, escorriam
águas.
Hoje
eu sei o que isto significa. Porquê as mulheres choram, mesmo nos momentos mais
felizes...
Elas
choram, não pelo momento de felicidade, mas por pensarem que talvez no futuro
não tenham mais isto.
Choram
por sentirem-se compreendidas e amadas.
Na
presença de quem amam, choram por pensarem em uma futura separação.
Depois
de períodos de sombra, choram pela luz que lhes chegam ao coração.
Em
silêncio eu beijei os seus olhos, procurando enxugá-los.
Ela
ainda incapaz de falar sobre o que lhe ia na alma, emocionada falou: “Vá se acostumando, eu sou muito emotiva
mesmo”, como se isto fosse algo que a desabonasse. Na verdade somente me
faz admirá-la ainda mais.
Em
quantas situações hoje podemos deixar fluir o que sentimos?
Na
presença de quantas pessoas nos encorajamos a sermos o que realmente somos?
Bem
poucas, por certo...
Minha
Princesa, que seja assim para sempre. Que não nos furtemos a sermos o que
realmente somos. A demonstrar o que realmente sentirmos e principalmente que
nossos olhos nunca deixem de perceber isto.
Te
adoro!
Lages-SC,
22 de julho de 2012.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Lágrimas de amor
Lágrimas de amor
Ele olhou
nos olhos dela e disse: - Preciso te falar algo que é muito importante para
mim. Pela expressão que ele fez, ela percebeu que não se tratava de mais uma
brincadeira e então, sentou-se sobre a ponta da cama e silenciou.
- Você
lembra o que escrevi em um de meus textos sobre esvaziar gavetas e armários?
Ela respondeu que sim.
- Pois bem,
vou te mostrar de que eu estava falando. Eu falava disto, disto, disto... Foi
falando ele enquanto abria uma série de gavetas e portas de armários, deixando
a mostra diversas peças de roupas femininas.
Ela pareceu
ficar chocada, apenas olhava para ele. – Pois é, é isto. Já se passaram mais de
seis anos, porém eu ainda não havia tido coragem de me desfazer das roupas dela,
porém hoje me sinto encorajado... Você me ajuda a fazer isto? Ela moveu a
cabeça afirmativamente, continuando em silêncio e olhando para os olhos dele...
Ele
sentiu-se novamente acolhido por ela. Em vez de censurá-lo ou fazer uma cena de
ciúmes, ela olhava mais do que para os olhos dele, perscrutava a sua alma, a
sua dor.
Aquele
olhar dizia muito mais do que simples palavras... Ele então sentou-se ao lado
dela e a abraçou...
Também ele não
tinha mais palavras... Apertou-a fortemente de encontro ao seu peito e ficaram
ali, duas almas afins, coração com coração.
Os minutos demoraram horas para
passar...
Quando ele a soltou, procurou os
olhos dela e os encontrou marejados... Percebeu sem surpresa que ela podia
sentir toda a dor por qual ele já havia passado e o entendia. Sim, ela o
entendia. O aceitava como era e estava disposta a ajudá-lo, por acreditar que
ele merecia isto, que valeria a pena.
As mãos dele tocaram a pele
branca e macia do rosto dela, enquanto ela continuava a fitá-lo de uma forma
tão especial que ele jamais irá esquecer. Atordoado, instintivamente as mãos
dele tentaram acariciar o coração dela, foi a forma que ele encontrou para
agradecer.
- Vamos lá? Falou ele com
convicção, levantando-se a um só movimento e quebrando a nostalgia que se
instalava.
E assim foi...
Em alguns minutos as gavetas e
armários ficaram vazios, enquanto caixas e sacolas se enchiam. Aquelas roupas
seriam doadas e poderiam ser úteis a outras pessoas.
O coração dele também abria
espaço para outro coração. Suas crenças sobre o amor estavam mudando. Ele agora
acreditava que poderia sim amar novamente e este amor já tinha endereço certo.
Ele ouviu de muitas pessoas que o
tempo curaria as feridas..., mas agora entendia que não era somente o tempo
capaz de fazer isto, mas principalmente um coração capaz de fazer com que seu
coração quisesse isto.
E foi assim...
Ela chegou a sua vida para o
desequilibrar. Para revirar seu mundo certinho. Para quebrar a sua redoma
cuidadosamente construída. Para por em dúvidas as suas maiores certezas.
Enfim, para ensinar-lhe a viver.
A acreditar que vale a pena continuar vivendo e viver intensamente.
Obrigado minha linda bruxinha.
Florianópolis, 09 de julho de
2012.
domingo, 24 de junho de 2012
O primeiro beijo...
-
Eu tenho uma pergunta muito importante para te fazer, disse ele bem em frente a
ela, segurando as sua mãos e olhando em seus olhos!
O sol havia retornado naquele dia,
para dar-lhe as boas vindas e iluminava o seu rosto, enquanto um pequeno tufo
de vento fazia os cachos de seus cabelos dançarem ao ritmo do sobe desce das águas
do chafariz. Em uma árvore ali perto, um casal de João-de-barro catavam freneticamente,
comemorando a casa agora pronta. Dezenas de peixinhos coloridos, organizados
como em um desfile, deslizavam no lago a frente deles.
Ao ouvir isto ela sorriu, pois já o conhecia
o suficiente para saber que aquele ar de seriedade nele, escondia mais uma de
suas brincadeiras.
- Pergunta importante... O que será?
E voltou a sorrir, por alguns segundos tentou desviar o seu olhar do dele.
- Você gosta realmente de cachorros?
Disparou ele. Ela ainda sem entender direito, respondeu que sim, e que só não
tinha um devido a não ter espaço em sua casa.
- Mas por que você me perguntou
isto? Disse ela novamente.
- Porque os “meninos” lá de casa
querem saber, pois somente assim eles aceitarão que eu namore com você.
- Ela agora havia entendido a intenção
dele, ergueu a cabeça e começou a rir. Ele aproveitou a oportunidade e a
beijou, querendo com isto dizer a ela, seja bem vinda a minha vida.
- Você me beijou? Falou ela
sorrindo...
- Beijei, respondeu ele a beijando
novamente.
Eles ficaram mais alguns minutos
sentados ali em frente ao lago, como que absorvendo o esplendor da natureza
para dentro de suas almas, depois se foram para outros caminhos, felizes como
duas crianças.
Almoço, supermercado, casa. Ele
tinha milhões de promessas para dar conta, pois as havia listado em “motivos
para você vir para Lages”.
Ele pegou de seu violão, e inseguro,
cantou a primeira música, Pássaro de Fogo. Aquela letra dizia muito dos dois. “Não diga que não. Não negue a você. Um novo
amor.Uma nova paixão. Diz pra mim...” Ela
sorria, enquanto os seus olhos se procuravam...
Como uma boa gauchinha, ela fez o “chima”,
sentaram-se no jardim e passaram a conversar... Ela falou de sua vida, suas
dores. Ele a ouvia interessado e, a cada palavra a admirava ainda mais. Depois
foi a vez dele. Falou de suas experiências, seus fracassos. Ambos abriam seus
corações um ao outro. Conheciam-se há quase cinco anos e sabiam tão pouco um do
outro.
Palestra, pipoca, cinema, muitos
risos. Volta para casa.
Aquela noite foi longa para ele. Repeliu
o sono por horas, pois ele queria aproveitar cada segundo junto dela. Ele
aprendeu a reconhecer o padrão da respiração dela quando dormindo. Riu sozinho
ouvindo-a estalar os dedos mesmo dormindo. Seus pequenos tremores, seus sons.
Tudo para ele era mágico. Sentia-se tão bem com ela em seus braços. Muitas
vezes ele ergueu-se sorrateiramente e focou mirando o rosto dela. Como ela é
linda! Dizia para si mesmo no silêncio de seus pensamentos.
Longe dali um galo madrugador já
ensaiava as primeiras notas... Ele a abraçou ainda mais forte, passou para a
posição “de conchinha”, enfiou seus rosto nos cabelos dela, e deixou que o sono
viesse.
O sol veio novamente confundir-se
com o dourado dos cabelos dela, mas eles ainda ficaram por muito tempo trocando
carícias, beijos e olhando um para aos olhos do outro. Ele sempre tinha algo
bobo para falar para ela, e riram muito. As paredes daquela casa já há muito
não sentiam tais vibrações.
Novamente cozinharam juntos. Ele fez
os strogonoff e ela o arroz e a salada. A batata palha compraram pronta.
Enquanto esperavam, entre um abrir e fechar de panelas, sorviam um gole de
vinho tinto. Ela colocou o seu celular, super, super, hiper para tocar algumas
músicas e começaram a dançar. Seus sorrisos e risos eram vida a espalhar-se por
todos os recantos, ao mesmo tempo que também serviam de terapia curando
feridas.
Almoçaram pertinho um do outro e ele
não deixava faltar no prato dela os champignons que ela adora.
Os olhos dele baixaram, quando ela
disse: - Está na hora, tenho que ir! Ele a viu entrar no ônibus já cheio de
saudades. Sentiu-se como uma criança de quem roubaram o doce. Ficou ainda junto
a rodoviária, esperando o último tchau e a viu sumir na longa avenida.
Ela se foi mais uma vez... Ele
lembrou dela sorrindo para ele, olhando em seus olhos e dizendo: - Quando eu
partir, te deixarei estes tantos momentos lindos que vivemos juntos neste fim
de semana para você lembrar.
Aquilo o consolou... Iria ser seu
alimento até o próximo encontro.
Tchau minha menina dos cachinhos de
ouro.
Lages,
24 de junho de 2012.
domingo, 10 de junho de 2012
Você me causou desequilíbrio!
A interiorização das ações supõe, assim, a sua reconstrução sobre um
novo plano, e essa reconstrução pode passar pelas mesmas fases, mas com um
maior desequilíbrio (décalage) do que a reconstrução anterior da própria ação.(Jean
Piaget)
É impressionante o poder que algumas
pessoas têm sobre nós...
Quando a encontrei, ela estava
sentada sobre um sofá, mexendo em seu celular para passar o tempo, já que por
um erro muito grave meu, eu estava atrasado. Sorriu para mim, nos abraçamos e
seguimos para o nosso destino.
O frio daquele dia era característico
do nosso inverno na Serra Catarinense. As temperaturas já caindo abaixo de
zero, provocavam profundas modificações a sua volta. As flores e o verde da
praça logo em frente, já não existiam mais. A grama antes vistosa agora
mostrava-se mirrada e, as folhas caídas das árvores rolavam sobre ela ao sabor
dos tufos de vento. A sensação térmica era ainda mais contundente, o que nos
fazia contrair os músculo e colarmos um no outro como uma forma autônoma de
compartilhar calor. Destemidos, seguimos em frente...
Adentramos o espaço da Festa do
Pinhão e passamos a divagar pelos diversos locais, aproveitando que por ser
cedo a multidão ainda não havia tomado conta de tudo. Mais tarde nos dirigimos
até o palco principal e ficamos a esperar pela Paula Fernandes. As horas
passaram e, fez com que o pequeno grupo que estava ali próximo a cerca,
passasse a ser um pequeno ponto entre cinquenta mil pessoas.
Assistimos ao primeiro show e depois
passamos para outros locais, pois o sertanejo que viria depois não era a nossa
praia. No palco tradicionalista nos demoramos por algum tempo, dançamos algumas
milongas e vaneras e, depois experimentarmos a paçoca de pinhão e o entreveiro,
fomos para casa.
No outro dia, vimos algumas fotos de
minhas viagens, fizemos um delicioso almoço e no meio da tarde ela partiu de
volta para a sua cidade. No entanto nem ela mesma poderia imaginar o que
deixaria para trás...
Mesmo antes de o ônibus partir, eu
já me sentia inquieto. Alguma coisa havia me desequilibrado... Sentia-me
pensativo, inquieto. O que era isto?
Voltei para casa mais ensimesmado
ainda. Algumas frases dela insistiam em reverberar em meus pensamentos. Que
coisa estranha!
Em poucas horas recebi sua mensagem
de que havia chegado em casa e que tudo estava bem. Me respondeu algumas coisas
e terminou dizendo que eu havia esquecido de tocar para ela. Olhei o violão por
sobre o sofá e pensei como nós dois poderíamos retribuir tanto carinho...
A noite foi agitada... Dormindo,
acordado, sonhando, a sensação era a mesma: Dúvidas! Eu tinha a impressão que o
meu mundo certinho, a bolha que eu havia demoradamente construído, havia
estourado e agora eu me sentia exposto, nu, diante de mim mesmo...
Seus gestos e palavras continuavam a
me rondar. Passei então a prestar mais atenção em meus pensamentos...
Quem era esta desconhecida que eu conheço
já há bastante tempo? Passeia a organizar as minhas memórias, por em ordem
certos fatos.
Os anos de convívio com ela haviam
passado serenes. Sempre fomos bons amigos e estivemos juntos em tantas
situações. Recordei o seu estilo quieta, que fala pouco apesar de sua enorme
inteligência e, ai me dei conta de algo: Ela é uma ótima observadora! É isso! Pensei,
as pessoas que falam menos podem concentrar sua atenção em reter muito mais
detalhes do mundo a sua volta.
Mas seria eu digno de sua atenção?
Neste momento lembrei-me de algo que havia acontecido há mais de dois anos. Procurei
em meu celular uma mensagem que ela havia me enviado naquela data e a
encontrei, pois guardo nele as coisas que me tocam: “Tadeu! Assim como as demais pessoas, também te achei um pouco tristinho
hoje. Não sei se é o que está acontecendo, mas caso em algum momento queira
conversar...”. É, ela realmente é uma ótima observadora... Percebi que não
foi somente naquele momento, mas em todo o nosso convívio. Provavelmente eu me
surpreenderia ouvindo-a falar de coisas sobre mim...
Bem, se ela é uma ótima observadora,
acredito que eu também o sou. Assim passei a relembrar os fatos daquele nosso
dia anterior...
A sua postura é digna de se
registrar. Se falarmos em ética e moral, ela é um exemplo vivo. Jamais notei
algo que a desabone em qualquer sentido que seja.
Me dei conta de como ela havia
registrado cada momento, cada palavra minha. Não somente naquele dia, mas de
outros também e, que me dava conta somente agora. Um exemplo disto foi que antes
de voltar para casa, ela se dirigiu para o jardim de minha casa e observou
tudo. Eu quis justificar que ele estava feio, pois agora devido ao inverno, as
flores haviam secado e as folhas espalhavam-se pela grama. Mas o seu objetivo
era outro e, então ela me perguntou: - Cadê
a cascata que você disse que iria fazer ali naquele canto?
Ela lembrava... Lembrava de algo que
eu havia lhe dito a mais de um ano. Eu realmente não havia construído a cascata,
nem o lago... E ela queria checar isto, pois nota o desânimo que eu ando já há
bastante tempo... Ela estava me analisando...
Não é a toa que é psicóloga. Saber
observar é a primeira e principal característica de um psicólogo. Sobre isto,
lembrei também que naquele dia, durante uma de nossas conversas, após eu lhe
falar algumas coisas sobre mim, e perguntar o que ela achava daquilo. Sua
resposta ainda ecoa: - Tedy, eu não sou a
sua terapeuta! Que visão! Que postura! Desta forma ela deixou claro para
mim a sua posição. Admiro muito as pessoas que sabem se posicionar de forma
clara e atendendo as suas necessidades, não a de agradar aos outros.
Nossas outras conversas também
vieram. Lembrei-me de uma mais recente onde ela havia me dito que não
acreditava que eu não estava fazendo terapia, pois em nossa profissão, sempre é
importante estarmos sendo orientados por outro profissional. No entanto entendo
agora que ela não se restringia a isto. Preciso lhe confessar que mesmo “você não
sendo a minha terapeuta”, você fez comigo o que nenhuma terapeuta fez ainda:
Você me fez questionar o mundo que eu construí para viver... Você mexeu com as
minhas estruturas.
Me senti muito bem em sua companhia.
Dançando, rindo, tremendo de frio.
Fazermos o almoço juntos foi
maravilhoso! Há muito tempo eu não me sentia assim, nem cozinhar eu faço mais.
Me senti cuidado. Motivado a fazer coisas que são muito simples, mas que ao
mesmo tempo podem ser maravilhosas. Eu havia me esquecido disto... Você me fez
sentir-me vivo. Você trouxe alegria para esta casa enorme e triste.
Ontem olhei para estas paredes e
móveis e vi coisas que já não via mais. Ajustei algumas portas de armários que
estavam desalinhadas há anos. Recoloquei alguns parafusos de volta a seus
lugares. Permiti-me até a pensar em esvazias certos armários e gavetas com
guardam coisas há muito tempo.
Quero que você saiba de uma coisa...
Em vez de você ter vindo a Lages para assistir a um show qualquer, para fazer
algo de que gosta. Você fez muito mais do que isto, mesmo não querendo fazer...
Simplesmente sendo o que você é.
Obrigado!
Lages,
10 de junho de 2012.
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