quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Anjos Cuidadores

Em uma bela cidade no alto da Serra Catarinense, rodeada por montanhas e paisagens paradisíacas, existe um lugar muito especial...
Há muito tempo atrás, um coração generoso se inquietava com a inexistência de um lugar onde os pequenos rebentos nascidos naquelas plagas, pudessem se recuperarem de distúrbios da saúde e, receberem um atendimento humanizado.
O ideal de antanho um dia tomou forma e, desde então, tem sido um verdadeiro ninho de amor, saúde e de paz. Quantos pequenos por ali já passaram? Milhares! Algum deles foi dispensado sem atendimento? Nenhum!
As almas queridas que o idealizaram e o construíram, já não vivem mais neste mundo, mas não é por isto que o esqueceram. Analisando as muitas nuanças do trabalho realizado ali, verificaram que para melhorarem ainda mais a qualidade dos atendimentos e a vida dos que fazem parte daquela obra no bem, precisavam de pessoas especiais. Pessoas que fossem capazes de cuidar de quem cuida.
Existiriam estas pessoas? Quem poderia que incumbir desta nobre missão? Além do mais, o hospital neste momento não teria condições para arcar com as despesas destes novos profissionais.
Quando as dificuldades pareciam serem muito grandes, alguém do grupo falou que naquela cidade havia sim pessoas que se enquadravam no perfil requerido. Seres que amavam as suas profissões e que não eram escravos do dinheiro, pelo contrário, gostavam de servir.
Aqueles corações se colocaram em prece, pedindo que o Pai Maior, inspirasse aqueles que fossem capazes de atenderem ao chamado.
Algum tempo se passou...
O mês de maio transcorria com seus dias já muito frios e as folhas das árvores já amareladas começavam a cair. O sol já não aquecia como antes e o frio Minuano já dava seus primeiros sopros, quando quatro anjos disfarçados de mulheres comuns chegaram àquele recanto de amor e vida. Dirigiram-se aos responsáveis da instituição e informaram que desejavam contribuir para a melhora daquele lugar.
É claro que os administradores aceitaram, embora ainda não soubessem exatamente o que aquelas profissionais poderiam fazer ali.
Em pouco tempo o trabalho deu inicio...
Dois anjos se encarregaram dos atendimentos nos apartamentos e da sala “Dona Carmem”. Outros dois da sala “Elisa”, “Adelaide” e “Maria do Carmo”. Todos juntos atenderiam a UTI, o Pronto Atendimento, o Pós Cirúrgico e a sala das mães.
O ambiente começou a se transformar...
A partir daquele dia, os servidores dos serviços gerais, os técnicos em enfermagem, enfermeiros, médicos, estagiários e demais profissionais e, principalmente as crianças internas e seus familiares, começaram a sentir o frescor da brisa produzida por suas asas, como também o perfume de suas palavras.
Jovens mãezinhas muito aflitas foram confortadas e contidas. Com os anjos elas podiam falar tudo o que lhes ia ao coração, tirar suas dúvidas sobre a saúde de seus pequenos, pois sentiam que havia interesse por elas.
Quando a morte fez-se presente, um dos anjos se vestiu de muito mais coragem e pintou suas plumas com amor intenso e acocorando os paizinhos apreensivos, pode minimizar-lhes os sofrimentos, mesmo que por dentro chorasse também.
Os feridos, acometidos de queimaduras, necessitados de procedimentos cirúrgicos, com pneumonia, viroses ou qualquer outra intercorrência não ficaram mais sós e agora podiam falar de suas dores, medos, dúvidas.
Muitos dos que ocupam aquela casa, estão lá para cuidar, porém diante de tantas situações em que muitas vezes se confundem como mães dos pequenos ou até os pequenos como seus filhos, não conseguem passar imune e também são abalados em suas estruturas.
Também para estes os anjos estão disponíveis. Com esmero, atenção e carinho, pacientemente lhes ouvem as narrativas. Um fala das dificuldades no relacionamento com o cônjuge, outro trás nos olhos a imagem do fracasso em que se vê perante a educação dos filhos, pois trabalha o dia todo e não pode lhes dar atenção de que precisavam.
Mesmos os que são vistos muitas vezes como deuses também precisam de atenção. Ali um fala de uma contingência ocorrida e da qual nunca havia presenciado. Outro sutilmente pede ajuda, reconhecendo que em sua formação não foi preparado para lidar com as emoções e a complexidade da mente e do comportamento humano.
Ao final da jornada, quando alçam vôo em direção a seus lares, muitas vezes já é noite. O corpo pode estar cansado, mas a alma está leve como nunca.
Quando finalmente descansam seus corpos buscando conciliarem o sono uma sensação de bem estar as envolve, é o prazer de poder ter sido útil, sentimento este que só experimentam aqueles que já aprenderam a compartilhar sem esperar nada em troca.
Em muitos cantos daquela região das serras, muitos corações elevam a Deus suas preces agradecendo a Ele pelos seres que lhes enviou e pedindo que os envolva em sue imenso amor. Este é o pagamento de quem nada esperam. Fazia assim também Jesus.

Obs.: Dedico este texto as psicólogas lageanas Angela, Susane, Roberta e Samanta.

Port-au-Prince, 10 de agosto de 2011.

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