domingo, 27 de novembro de 2011

O melhor abraço do mundo.

Na laranjeira ao lado, o sabiá fazia a sua alvorada de todas as manhãs de Primavera, mostrando a seus filhotes ainda pouco plumados, como se deveria começar o dia e, os primeiros raios de sol pediam licença as nuvens para aquecer a vida na Terra. Acordei. Levei a mão ao meu peito, como se este gesto pudesse diminuir um pouco da dor. Foi inútil.
            Mais uma noite de sofrimento... Novamente eu te procurava e você fugia de mim. Se mostrava indiferente a minha presença, me rejeitava. Quantas outras já havia sido assim? Quantas eu ainda teria? Não sei... Repentinamente assaltou-me a mente a lembrança do melhor abraço do mundo...
           
            Os dias atuais são marcados pelo automatismo de nossas ações. Quase todos nós, não nos permitimos o desligar das tantas coisas que teremos que vencer. São as tarefas do trabalho que, materializadas em metas nos impelem a agirmos nos limites de nossas forças físicas e psicológicas. São as responsabilidades com os estudos, que muitas vezes nos fazem avançar a madrugada e sacrificar nossos finais de semana, para podermos dar conta de tantas leituras, trabalhos, provas. São as relações familiares, as responsabilidades com os filhos, cônjuge, as tarefas de casa, que nos desatentos, fazem com que passem o tempo que lhes resta dentro do lar, sem dar-se ao prazer de curtir aquele ambiente e as pessoas que lá convivem.
            Estes exemplos e tantos outros, vão ao longo do tempo nos tronando como robôs. Se nos filmes de Holiwood os robôs tornam-se gente, na vida real acontece o contrário, somos nós que nos tornamos robôs ,e talvez tenha sido esta a mensagem que os diretores querem nos passar.
            Mas afinal, o que caracteriza em robô? - É a ausência de sentimentos, responderia você. É isto mesmo... Um robô trabalha com perfeição, não reclama de nada, só executa, pois não precisa de prazer.
            E você, precisa de prazer?
            Vivemos dias em que ter isto já é um luxo. Chegamos ao ponto de já nos acostumarmos a viver sem prazer. A frieza e a indiferença nos tomaram e, pior, nem sequer nos demos conta disto.

            Foi simples assim... Ela sorriu para mim e me abraçou, mas o seu abraço não tinha nada de simplicidade...
            Não foram apenas os seus braços que me envolveram, foi muito mais. Ela é capaz de transmitir coisas que já não estamos mais acostumados a sentir.
            Fiquei paralisado... Perdi o comando sobre o meu corpo, apenas me deixei envolver por seu magnetismo. Passei a viver em outro ambiente. Do urbano passei a um campo florido. Os sons que ouvia agora eram de pássaros, de uma cascata borbulhando ao meu lado. Uma brisa suave me envolvia.
            Aquele abraço me dizia coisas...
- Desejo que suas noites sejam sem pesadelos e que seu amanhecer seja dourado.
- Desejo que de seus olhos não rolem mais lágrimas, mas sim que possam ver a beleza do mundo.
- Desejo que seus dias sejam coloridos e doces como uma fruta madura.
- Desejo que o ar que você respira não tenha mais poluição e sim um cheiro de jasmim.
            Quanto tempo durou? Impossível calcular... Durou o tempo que eu precisava para me sentir cuidado. Para entender que existem pessoas que fazem a diferença neste mundo conturbado e que em um abraço conseguem abalar as nossas frágeis estruturas.
            Eu quis falar... Queria lhe dizer como aquele abraço era gostoso, como me faz bem... Mas as palavras não saíram. Ainda envolto em seu magnetismo, vi-a desprender-se de mim e seguir o seu caminho.
            Sorri para ela mais uma vez e agradeci a Deus por Ele tê-la colocado em meu caminho, por eu tê-la como amiga.

            Quando voltei a mim da lembrança tão doce, percebi que meu peito já não doía tanto. Entendi que, se a vida nos põe em provas, também nunca nos faltam aqueles que nos sustentam, apóiam e até muitas vezes nos carregam.
Se ainda hoje vivemos na condição dos que só recebem, que tal partirmos para a posição dos que também aprenderam a servir?
            Paz e bem!

Lages-SC, 27 de novembro de 2011.

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