sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma garrafa de vinho, um violão e eu...

            Saí daquela sala decidido a voltar para casa...
            Para onde mais eu poderia ir?
            Quem sabe a um bar. Colocar uma garrafa em minha frente e afogar as minhas mágoas em alguns decilitros de álcool?
            Relutante, voltei para casa, afinal é ela que sempre me acolhe em todas as situações...
            Com o corpo no volante mas a mente em outros lugares, mecanicamente liguei o rádio, talvez na esperança de ele não me fazer tão só...
            O único que me aceitou naquela hora, emitia sons de todas as tribos... Parei em uma estação. Leonardo usava de toda a sua bela voz em mais uma canção de amor...        Amor? O que significa isto para um coração vazio? Talvez somente palavras... “Preciso juntar os pedaços do meu coração” dizia o cantor...
            Esta frase marcou-me naquele momento. Será que eu poderia fazer isto? Onde andam os pedaços de meu coração?
            Não sei...
            Ao pulsar de meus dedos no controle, o portão se abriu...
            Me vi dentro de meu carro, sob minha casa, mas me sentindo como alguém que não tem para onde ir....
            Outra música tocava e, me debruçando sobre o volante, fiquei ali, imóvel, alheio a tudo.
            Para onde iria agora? Quem esperava por mim?
            Subitamente me veio à memória as pessoas que me amaram, que gostariam de estar comigo naquele momento, mas que eu as afastei, por não conseguir continuar...
            Quem escolhe de quem gostar? Não, não escolhemos! Mente quem diz que a convivência propicia o amor. Um amor diferente, um amor companheiro, um amor ágape. Quem se contenta com isto?
            Não, não nos contentamos! Lembrei do que disse hoje a uma de minhas pacientes: “ Que mal há em sentirmos tesão, desejo por alguém? Isso ocorre com todos nós, nos momentos mais inesperados. Porém simplesmente disfarçamos, encaramos como pecado, como coisa errada e jogamos este desejo para debaixo do tapete1”.
            Ah, mascara nossa do dia-a-dia! O que seríamos de nós sem você?
            O que queremos na verdade é um amor que nos faça duvidar de tudo em que acreditamos. Que nos faça votar a ser criança, que mexa, destrua o nosso mundo tão certinho e tão previsível. O que queremos é coração acelerado, é mãos suadas e frias, é aquele arrepio nos fazendo nus diante do outro.
            Onde está este alguém?
            Talvez esteja entre as multidões. Talvez seja alguém que já passou por nossas vidas certinhas e planejadas e que repelimos, pois primeiro precisaríamos cuidar de nosso futuro, nossa formação acadêmica, um bom emprego...
            Falácia! Falácia sim, pois muitos corações com a conta milionária, com o emprego dos sonhos, com a fama aos seus pés, duvidam que exista um amor de verdade.
            Os anos poderão passar, nossos objetivos do “ter” talvez já tenham sido atingidos, porém olhamos para a nossa trajetória e nos sentimos tão pequenos...
            Em que momento nos perdemos? Impossível descobrir....
            Os dedos apertam as cordas de aço na nota da partitura e uma garganta tocada pelo vinho branco, procura reproduzir a letra... “preciso juntar os pedaços do meu coração”... Onde está o meu coração? Poderia juntar os pedaços?

 Lages-SC, 13 de abril de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário