No início da tarde de hoje, tivemos a formatura para a entrega da boina azul. Em todo mundo, o soldado da ONU é reconhecido por usar o capacete (quando em situação de combate ou segurança) ou a boina (nos trabalhos humanitários, sociais, ou de folga) azul.
Esta era a última peça do uniforme de Peacekeeper que nos faltava, e foi motivo para comemorações. No período da noite, nossos colegas do rancho, nos prepararam um jantar especial, com diversos tipos de massas. Estava muito bom, mas como decidi só ganhar massa muscular aqui, me contive, evitando comer mais do que preciso.
De volta ao meu container alojamento que divido com mais três colegas, encontrei-os reclamando de que o nosso ar-condicionado não estava resfriando direito. Verificando a temperatura ali dentro, concordei com eles. Isto aconteceu em torno das nove da noite.
Mudamos as opções, desligamos e religamos, tiramos o filtro de ar e nada. Nosso quarto continuava bastante quente. Depois de muito tentando, dois deles desistiram e foram dormir assim mesmo. Eu aproveitei o tempo para assistir dois filmes, “Lutero” e “Olga”.
O tempo passou e nada de nosso ar resfriar. Um de meus colegas ficou mais preocupado, levantava a cada 10 minutos e vinha me perguntar se agora estava funcionando, pois nossas camas são formadas por dois beliches de metal alinhados ao lado direito da porta de entrada, e como eu durmo no de cima que fica ao fundo, estou ao lado do ar-condicionado.
Já eram meia-noite e meia, e resolvi sair um pouco para fora. O clima externo, estava mais agradável do que dentro do container. Olhei a varanda, os pés de bugaville que alguém de contingentes anteriores plantou para nós, mirei suas flores e desviei o olhar para o céu. Que saudades do céu do meu Brasil!
Lembrei de minha rotina noturna. Sempre que chegava da aula, saia para o meu jardim e soltava os meus meninos peludos para fazerem xixi. Olhava para o tapete celeste crivado de estrelas, onde a Via Láctea mais parece-se a bilhões de diamantes e, me perdia em devaneios.
O primeiro que eu buscava era o Cruzeiro do Sul. Depois procurava pelas três-marias. Orion, Perseu, Castor, Sirius, Capela e tantas outras, pareciam que piscavam para mim. Algumas patinhas tocavam minhas pernas e eu despertava, era hora de entrar.
Aqui não se vê quase nada. Embora haja pouca poluição luminosa, a poluição do ar é enorme, e a posição geográfica também não favorece.
Resolvi entrar novamente, na esperança de que o ar houvesse resfriado, não resfriou. Rimos de nós mesmos, já pensando na noite que teríamos e meu amigo Chico foi até o frigobar, pegou uma latinha de cerveja, colocou em um copo de alumínio, tomou um gole generoso e passou para mim dizendo: “essa está gelada!”. Rimos novamente bem baixinho, para não acordarmos os outros dois, tomei também um bom gole que apesar de não ser Skol, desceu redondo e levando a situação na brincadeira, resolvi escrever este texto para vocês.
Bem, agora já são uma e meia, ai no Brasil, quatro e meia. Vocês já perceberam que o que esquentou foi o meu alojamento e não as coisas no Haiti (hehehehe), então é hora de criança dormir. Boa noite amigos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário