sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lágrimas de menina.


Ele era um estranho ali. Estava naquela sala de aula para cursar uma disciplina isolada, e a maioria de suas amigas já haviam ido embora. O tema trazido pela mestra foi o dos relacionamentos familiares, e pediu que um a um, os alunos falassem sobre o que pensavam sobre família.
            Este tema era muito difícil para ele. Valorizava sobremaneira a família, mas a sua não mais existia. Ficara somente as lembranças e uma dor crônica em seu peito. Ele pensou também em se retirar, não por achar este assunto chato ou sem importância, mas sim porque seu coração dava saltos em seu peito.
Resolveu ficar. Não foi um sentimento masoquista que o reteve ali, mas por pensar que poderia aprender muito ouvindo seus colegas. Logo ele estaria de volta aos atendimentos na Clínica-Escola, e por certo aquelas experiências lhe serviriam muito.
            O clima estava tenso. A turma se dividia. O povo que não mais acreditava em família era a maioria. Aqui, uma acadêmica relatava sua péssima experiência no casamento e das conseqüências disto em sua vida. Ao terminar, outra falava dos acontecimentos relativos aos seus pais, e de como era ser filha de pais separados. A palavra seguia de boca em boca, quase sempre na mesma batida.
            Quando mais da metade dos alunos já haviam falado e a palavra aproximava-se dos que ficavam no canto direito da sala, alguém me chamou a atenção. Ela era uma menina linda. Seus cabelos negros caiam macios sobre os seus ombros. Seu rosto triste, abrigava dois olhos muito grandes, mas que apesar ágeis, derramavam águas de muita dor. Ela parecia agitada, via-se que aquele assunto a incomodava profundamente e seus gestos abundantes, eram pareados por um mar de palavras que ela dirigia as colegas ao seu lado. O que estava acontecendo? O que a fazia sofrer daquela maneira?
            Bem poucas pessoas notaram o que acontecia com ela. Ele pensou que os que carregam em seus peitos os espinhos de dores incuradas, de alguma forma se reconhecem, se identificam. Sentiu uma vontade de abraçá-la. De enxugar as suas lágrimas. De falar muitas coisas bobas que a fizessem rir, ou de simplesmente sentar ao seu lado e ouvir suas histórias enquanto ela precisasse falar.
            Ele a havia visto somente algumas vezes pelos corredores e nem sequer sabia qual era o seu nome, mesmo assim, ansioso, esperou pelo final da aula, onde buscaria uma oportunidade de lhe falar; algo o impelia à isto.
A aula acabou e, enquanto ele esperava para responder a chamada, ela saiu rapidamente pela porta e se foi. Logo após ele também saiu e, ao ganhar a rua a viu através das grades, já longe, caminhando tão rápido quanto os seus pensamentos. Ela se foi.
            Depois deste dia, muitas outras vezes ele a viu. Acabaram se conhecendo, ele soube seu nome. Cada vez que ele a via, ela estava sempre sorrindo. Sua maneira sempre agitada, gesticulando muito e falando tantas coisas, o faziam pensar em o que se escondia atrás daqueles sorrisos e aparente alegria. Nunca descobriu. Não quis perguntar-lhe.
            O que te incomoda beautiful girl? O que te faz as vezes querer desistir de tudo? Quem foi que te falou que viver não vale a pena? Que a vida é uma droga. O que te faz querer rasgar suas carnes no intuito de querer que sua dor se esvaia através de suas veias?
            Não sabe ele! Na verdade, nem se interessou em saber. Quer apenas que ela saiba que não está só. Que seu abraço e seu colinho, sempre estarão a sua disposição.

            De aprendiz para aprendiz.

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