quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Velho Rio


            Quando vislumbrei pela primeira vez Hispaniola, me chamou a atenção aquela serpente branca que escorria entre as montanhas, o que seria? Quando a altitude diminuiu, pude perceber que era um rio, ou pelo menos o que sobrou dele, desejei visitá-lo.
            Agora eu estava ali. O caminhão que nos conduzia transitava pelo seu leito seco, formando uma nuvem de poeira atrás de nós, resolvi parar. Meus pés tocaram aquele corpo já quase sem vida, e minhas mãos buscaram um punhado de sua areia, eu queria senti-lo.
Enquanto os grãos esvaiam-se entre os meus dedos, tal como em uma ampulheta, meus olhos focaram a grande montanha que era a sua nascente e, minha mente viajou.
A paisagem agora era bem diferente. As encostas antes desnudadas pelo desmatamento, agora de revestiam de um verde esplendido, formado por uma vegetação bela e diversificada. As grandes árvores eram ocupadas por muitos ninhos e os pássaros voltaram a habitar o céu. Meus pés não estavam mais sobre a terra seca, mas sim submersos sob um espelho de águas verdes e límpidas. Sons me despertavam agora e ao procurar de onde vinham, vislumbrei ao longe vapores d’água que cobriam o horizonte, eram cachoeiras.
Procurei onde me sentar e percebi que naquele ponto de águas mais mansas, lírios multicoloridos enfeitavam as suas margens ainda preservadas. Não resisti aos seus encantos e meus dedos tocaram-nos suavemente. A veludez branca daquelas pétalas me lembraram da pele dela, agora eu entendia o significado da frase “a flor da pele”.  Elas pareceram que leram os meus pensamentos e retribuindo o meu carinho, me envolveram em doces perfumes que eu sorvi avidamente em haustos profundos; lembrei de seus lábios e senti o desejo de beijá-la.
Alguém chamou o meu nome e despertei. Do paraíso de 500 anos atrás, voltava eu ao tempo presente. Fitei aqueles filetes mínguos que, como os últimos dos soldados de um batalhão, ainda teimavam em defender sua terra e, reverencie o velho Soliette prestando continência àquele herói.
Embarquei de volta em minha viatura, e ainda mirando aquele corpo esquelético e palito, mentalmente lhe disse: - “Não desista velho amigo. As chuvas ao de voltar. Suas margens se encherão novamente de água e o murmurar das cachoeiras tu irás de ouvir novamente”.

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