terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Despedida de Mim


            A porta se fechou a minha frente, girei a chave e parti. Ali dentro ficava grande parte de minha história, coisas de que gosto, dois meninos Lhasa Apso que me adoram e toneladas de lembranças, erros, acertos, sorrisos e lágrimas, aprendizados...
            Ao tocar o portão ainda quis olhar para trás mais uma vez. Meus olhos buscaram minhas flores no jardim. Ali estavam a minha bugaville florida, as orquídeas, os lírios, os amor perfeito, a touceirinha de bambu e o meu preferido, um pé de jasmim que ainda retinha uma flor, talvez para que eu levasse o seu cheiro para o mundo distante.
            Sai. Fechei o portão e sai fora de meu perímetro seguro para me atirar ao mundo. Uma quadra a mais, e lá estavam os meus paizinhos, de olhos úmidos me esperando. Despedidas. Não tenho mais um amor para me despedir. Minha querida filha também está longe, mas tive que enfrentar a expressão triste daqueles que me deram a vida, foi difícil. Meus braços fortes envolveram aquele anjo em forma de pessoa, que Deus por misericórdia me deu para mãe. Aqueles cabelos negros e brilhantes de antes, agora já estavam branqueados pelo tempo, foi difícil. Depois de um beijo e de palavras de amor, busquei aquele homem que sempre escondeu suas emoções para se mostrar forte, mas que agora tinha a face ainda mais vermelha e os olhos marejados. Não conseguiu falar...
Eu também sou assim, mas rapidamente improvisei uma brincadeira, quis ser divertido, buscava trazer a alegria em um momento que me parecia crítico. Fugi de seus olhos e disse: “Eu voltarei logo! Façam de conta que saio agora apenas para o trabalho e que logo estarei de volta!” Tentaram expressar um sorriso contido que eu aproveitei para partir.

Adeus carinho de pai e mãe;
Adeus o cheiro das flores;
Adeus festa canina ao voltar para casa;
Adeus conforto e segurança de meu lar.

Ganhei a rua e a passos lentos segui meu rumo. Quis ir a pé. Percorrer aqueles caminhos tão meus, quando em tantas manhãs eu ia louvando a Deus, por ele ter feito o nosso mundo tão belo. Pude novamente ver e ouvir o canto dos pássaros que saudavam o novo dia. Sentir os cheiros do verde das folhas, das flores multicores. Pela última vez olhei para o velho pinheiro que havia plantado em minha pré-adolescência e o saldei. Uma brisa mansa o fez balançar, e cheguei a pensar que ele me respondia.

Adeus bairro que me viu crescer;
Adeus cidade em que quero florescer;
Adeus amigos que a vida me deu;
Adeus abraço gostoso da menina dos cachinhos de ouro;
Adeus meu pequeno mundinho.

A passos lentos, mas decididos, venci a distância a que me dispus. Embarquei no ônibus que me roubaria a felicidade e parti, uma nova etapa de minha vida se iniciava agora... 

3 comentários:

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  2. Que Lindo... não é fácil para todas as pessoas que você citou no texto vê-lo partir e no seu lugar ficar apenas lembranças e não você. Principalmente para uma "MÃE". Com certeza no lugar da saudade vem também um orgulho de ter um filho assim determinado e de um caráter ímpar. Fica bem. Bjs.

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  3. Despedidas, elas acabam comigo. Um Até Logo, que vai cheio de felicidades então...

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