quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dois pássaros

             Nesta manhã, durante a nossa formatura, um colega que estava distraído sob uma pequena árvore. Levou um susto, quando muito perto de sua cabeça, ouviu um barulho estranho e algumas folhas mexendo-se rapidamente; era um pássaro.
            Neste país assolado pelo desmatamento, praticamente todas as árvores que aqui existiam foram cortadas para transformarem-nas em carvão, o que contribuiu para a extinção quase completa dos pássaros.
            Aqui a chance de você ver um pássaro é extremamente rara. O ar é por demais poluído, a água também, além de ser escassa. Port-au-Prince, se tornou um lugar inóspito para nossos amigos.
            Ao presenciarmos este fato, alguns de nós sorrimos, achando graça na atitude de nosso colega. Eu me aproximei da pequena árvore e eis que entre seus galhos estava uma pombinha rola, ou “pombinha das almas”, como alguns conhecem. Aqui elas são um pouco maiores que as nossas do Sul, e tem uma coloração marrom avermelhada.
            Nossa hóspede estava assentada sobre um ninho, chocando os seus ovinhos e, o autor do susto, o machinho, ia e vinha a cada minuto, com um novo galhinho em seu bico. É isso mesmo! As mulheres daqui também são muito exigentes. Ouvi e fêmea dizer:
- “Ande logo seu preguiçoso! Não vê que este ninho está mal feito! Tem poucos galhos e estão desalinhados. Com quem eu fui casar, logo contigo, um desajeitado. Ninho bom é o da Marinhazinha, aquele sim. O Pedrão fez ele com o dobro do tamanho deste aqui, e duvido que o vento o derrube”.
            Pobre bichinho, ouvia tudo calado, nem sequer um piu. Voava feito um louco. O biquinho sempre aberto demonstrava grande fadiga, mas que escolha tinha ele? Em um lugar como este, já é uma benção estar vivo. Ter então uma mulher é coisa de outro mundo, coisa lá da República Dominicana. Vai que ela resolve de trocá-lo pelo “Pedrão”, onde ele arrumaria outra?
            A formatura iniciou. Nos alinhamos e seguimos os ritual. Vezes ou outra, eu olhada de canto de olho para a árvore, e eis que o ofício continuava idêntico.
            Meus pensamentos voaram para meu lar. Revi o meu pé de guaraná-do-japão, que nesta época deve estar repleto de frutos. Aquelas frutinhas tão pequenas e doces, já há alguns anos tem servido de alimento para meus queridos amigos. Ali pousam bandos de sabiás, que de início se mostram ariscas a cada vez que eu chego ao jardim, mas que depois de alguns dias (e muita conversa minha), se tornam mansas a ponto de eu poder quase tocá-las.
            Não somente elas, mas também os bem-te-vis, os sanhaços, os suiriri, as sabiás-do-campo, entre outros, vem ali saborear os frutos, onde em tantas tardes quentes de verão eu abraçado ao meu violão, cantava as coisas do coração.
            Me deu saudade de casa. 


Um comentário:

  1. Hehehe, gostei do Pedrão. O pé de guaraná-do-japão, estava repleto de frutos sábado (19.02)e pelo fato de estar chovendo muito por aqui, faz com que os amiguinhos passem menos tempo em torno da árvore. Mas devido ao sol de sábado, domingo pude observar que eles se encarregaram de todo o restante dos frutos. É muito lindo mesmo observar o movimento. Eu, Dudu e Artur brincando de boliche na calçada com latas de cerveja e nem assim os pássaros deixaram de prestigiar tamanha gostosura. Abraços ao Pedrão, rsrsrs. Beijão fica com Deus.

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