sábado, 5 de fevereiro de 2011

Primeira Missão fora da Base

            Hoje sai para a minha primeira missão fora da base, eu faria parte de uma equipe de quatro homens que iriam fazer a segurança de outras pessoas e de dinheiro (dólar) em espécie.
            Antes de sairmos, há um “brefing”, quando recebemos todas as orientações sobre a missão.
            O país no momento o Haiti encontra-se pacificado e não temos tido mais incidentes com rebeldes, porém sempre agimos considerando que isto pode voltar a acontecer, e em nosso caso, com a possibilidade de um assalto ou emboscada, por isto tomamos as devidas precauções. A preparação inicia-se com a colocação de nosso equipamento que além de nossa farda camuflada, compõe dos seguintes itens: Joelheiras, cotoveleiras, luvas de couro, colete balístico, colete porta equipamentos, capacete de aço e óculos. Armamento eu levei uma pistola 9mm e um fuzil 7,62 mm. Todo este equipamento pesa em torno de 12 quilos.
            Não é dada fácil carregar todo este peso, pois se em um primeiro momento parece ser leve, com o passar das horas ele pode chegar a ser insuportável. Perdemos um pouco de mobilidade, mas ganhamos em proteção e segurança.
            Saímos da base em direção a um banco da cidade em duas viaturas Lande Rover, especialmente construídas e equipadas para as Forças Armadas. Ela possui uma cabina fechada para quatro pessoas e mais uma carroceria para mais seis homens. Nós da segurança fomos em cima da carroceria, pois dali teríamos uma ótima visibilidade, mobilidade e linha de fogo.
            O trânsito estava caótico como sempre. Movíamos lentamente e os motoristas tendo todo o cuidado para não baterem ou atropelarem alguém. Olhei em direção as montanhas e quase não consegui enxergá-las, tamanha era a poluição do ar. Os nossos óculos escuros, longe de serem embustes, se tornam equipamento imprescindível para nos proteger os olhos, alguns colegas que nos antecederam, tiveram infecções seríssimas devido as condições inóspitas.
            Durante todo o trajeto, eu aproveitei para olhar tudo a minha volta. A quantidade de lixo nas ruas, não tem como lhes descrever, mas uma coisa positiva me chamou a atenção: Em algumas ruas principais, grupos de pessoas adultas, dentre elas muitas mulheres, munidas de picareta, enxadas e pás, realizavam a limpeza dos canais laterais as ruas, por onde escoam em esgotos. Eles retiravam coisas inacreditáveis daquelas valetas, e depositava tudo em cima da calçada, para que depois caminhos caçambas estacionassem ali e eles os enchessem com toda aquela sujeira. Felizmente uma atitude positiva em relação ao avanço do cólera e da prevenção de outras doenças, já que com os canais da forma que estão, quando das raras chuvas, a cidade toda fica alagada.
            Continuamos. Mais a frente vi um porco dentro de um destes canais imundo, que faceiro comia cascas de banana que um garotinho de uns oito anos atirava para ele. Sim, é isto mesmo que você imaginou. Os porcos aqui andam e comem dentro do esgoto e mais, são abatidos sobre o lodo e carneados, sendo a carne consumida em seguida.
            Mais alguns metros e paramos novamente. Alguns garotos se dirigiram até nós e um deles disse: “- Give me some money.” Sim, a situação aqui exige um pouco mais. Os integrantes de ONU aqui n Haiti são milhares, e também existem diversas ONGS, desta forma os garotos aprendem as frases que lhes interessa para pedirem dinheiro aos estrangeiros.
            Passados cerca de uma hora para percorrer um caminho de uns cinco quilômetros, chegamos ao nosso destino. Enquanto os responsáveis foram até o respectivo local, nós permanecemos próximos as viaturas fazendo a segurança.
            Eu fiquei próximo ao portal principal e dali podia ver o que se passava na rua. Uma vendedora ambulante, se aproximou de uma árvore, dirigiu-se ao lado oposto a rua, agachou-se e fez xixi, isto é muito comum aqui.
            A fumaça e a poeira eram asfixiantes. Já há mais de um mês não chove. Passadas umas quatro horas, o equipamento já parecia pesar toneladas. O sol sempre forte queimava minha pele. O suor já molhava minha face. Muitas pessoas passavam por nós e eu me perguntava o que pensariam a nosso respeito. Nos odiariam por sermos estrangeiros ocupando o seu país? Gostariam que fossemos embora e que nunca tivéssemos vindo para aqui? Não soube ler isto em seus semblantes. Seus olhos não me encaravam. Ali estava um soldado munido de o sua autoridade, alicerçado no poder de fogo das armas que tinha em suas mãos. Ninguém em sã consciência ousaria me atacar.
            Por alguns momentos cheguei a me sentir como um soldado americano no Oriente Médio e isto me incomodou. Ainda divagava, quando passou por mim um “bombagay” (cidadão hatiano). Ele vinha alegre, olhou para mim, e vendo a bandeira do Brasil em meu uniforme, tentou falar Brasil e me fez o sinal de “positivo” com as mãos, dando a entender de que gostava de nosso país, me senti melhor.
            Os colegas saíram do banco. Tomamos nossas posições, vigilantes e atentos a qualquer contingência. Após nos certificarmos que a área estava segura, embarcamos novamente para o nosso retorno, por um trânsito ainda pior, pois já eram quase uma hora da tarde e chegamos de volta a nossa base em segurança, finalmente, depois de mais de cinco horas, eu poderia livrar-me daquele peso todo.

4 comentários:

  1. OLÁ MEU AMIGO, COMO VC ESTÁS???
    ESPERO QUE NA MEDIDA DO POSSIVÉL ESTEJA TD BEM...
    SEMPRE ADMIREI VC POR SER GUERREIRO, E LUTAR POR COISAS Q VC ACREDITA...
    hOJE TE ADMIRO MTO MAIS, POIS NAUM DEVE SER NADA FACIL ESTAR, ESTAR EM LUGAR ESTRANHO E COM TANTOS PROBLEMAS E MISERIA...
    MAS COMO JÁ FALEI NO INICO VC É GUERREIRO E SEI Q TIRÁS DE LETRA TD ISSO..
    MTA LUZ PRA VC E TDS Q ESTAUM AI...ABRAÇOS E BJO
    ATT.: JOSY

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  2. Muito obrigado pelas suas doces palavras e pela força que me dá.
    Tudo vai ficar bem sim.
    Beijão.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Tedy, estou sempre acompanhando seus passos.... Apesar de já saber um pouco de como são as coisa por aí sei que não é fácil, a preocupação sempre esta em meu coração, ainda mais pq vc chegou numa hora caótica no país, em que as pessoas Haitianas precisam mais e mais! Seus relatos são admiráveis, continue fazendo-os... Sempre presente, aqui estou! Um grande bj e que Deus te ilumine! Juliana

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